Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
DROGA DA VIOLÊNCIA FORMIDÁVEL – Capítulo 3<br />
adverte Castel (2000), <strong>de</strong> as socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas caírem na anomia que o Estado<br />
social bem ou mal sufocou (p.33). Argumenta-se que o Estado não é digno <strong>de</strong>ssa<br />
conclamada solidarieda<strong>de</strong>, porque o fruto da árvore neoliberal é, sem dúvida, a<br />
produção <strong>de</strong> riquezas, diga-se não negligenciável, e, simultaneamente, uma<br />
constante ameaça da guerra econômica e da anomia social, tendo-se em conta que<br />
o mercado postulado pelo neoliberalismo não está intencionalmente programado<br />
para produzir, em si, o elo social. Bem ao contrário, está <strong>de</strong>stinado a <strong>de</strong>struí-lo.<br />
O que esperar <strong>de</strong> um Estado discursivamente dito promotor da coesão social,<br />
da solidarieda<strong>de</strong>, da parceria, da prevenção <strong>de</strong> riscos da dissociação,<br />
estabelecendo, inclusive, regulações formais na legislação <strong>de</strong> um proclamado direito<br />
social e <strong>de</strong> uma esperada proteção social? O que esperar, então, sabendo-se que<br />
todo esse aparato discursivo nada mais é que um dispositivo para lidar com a<br />
permanente insegurança a que se vê fadado o povo? Será esse Estado, o<br />
autoproclamado novo Estado Social, diferente ou melhor do lugar <strong>de</strong>ixado vazio pelo<br />
antigo Estado, aquele, dos idos do século XIX, quando se suce<strong>de</strong>u a falência do<br />
Estado <strong>de</strong> Bem-Estar e vigorou o conhecido Estado sem política. Ou, melhor<br />
dizendo, quando em lugar do Estado, vigeu a chamada política sem Estado<br />
(CASTEL, 2000, p.27), época em que as funções sociais eram inspiradas na<br />
filantropia dos notáveis, no cristianismo social, no paternalismo patronal (i<strong>de</strong>m,<br />
i<strong>de</strong>m)? Ou, ainda, mais precisamente lembrando, quando reinava magnânima a<br />
i<strong>de</strong>ologia do social, pautada na dominação do patronato sobre os dominados, no<br />
exercício <strong>de</strong> uma tutela benevolente, a cujo âmbito, em verda<strong>de</strong>, se restringia o<br />
social? No exercício <strong>de</strong>ssa benevolência caridosa, a moral assim institucionalizada,<br />
era irrigada pelos fundos regidos sob o princípio do voluntariado e não da<br />
obrigação? Isso suscita <strong>de</strong>duzir que conclamações ao voluntariado é um disfarce da<br />
fuga da obrigatorieda<strong>de</strong> social? Não po<strong>de</strong>ria levar, também a um oportuno<br />
questionamento <strong>de</strong>ssas parcerias comunitárias, a rigor firmadas sob controle remoto<br />
do Estado, sob um visível estado <strong>de</strong> interesses, se admitimos com Castel (2000),<br />
que:<br />
... só se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> um Estado Social ou <strong>de</strong> um papel social<br />
especificamente exercido pelo Estado quando o Estado se posiciona como<br />
120