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Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ

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DROGA DA VIOLÊNCIA FORMIDÁVEL – Capítulo 3<br />

imputada pela própria carência, numa sucessão <strong>de</strong> omissões e <strong>de</strong> adiamentos do<br />

po<strong>de</strong>r público e da sensibilida<strong>de</strong> social. Pela primeira, aos olhos generalizantes, por<br />

ser pobre, a ela é a<strong>de</strong>rido o rótulo dos ilícitos. Pela dupla vitimação, pela pobreza e<br />

pela ilicitu<strong>de</strong>, é tida como in<strong>de</strong>sejável. Pela tripla imputação, pobreza, ilicitu<strong>de</strong>,<br />

in<strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong>, é responsabilizada pela violência. Pela quádrupla vitimação –<br />

pobreza, ilicitu<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong>, violência, a ela se atribui à culpa da exclusão <strong>de</strong><br />

que, no fundo, é a maior vítima. Anacronicamente, a multivitimação é vendida como<br />

a síntese das causas dos males sociais.<br />

No vácuo errante das mentes dos agentes responsáveis pelas políticas<br />

sociais, coabitam, <strong>de</strong> um lado, o <strong>de</strong>smantelamento das associações <strong>de</strong> moradores e<br />

o <strong>de</strong>saparecimento dos lí<strong>de</strong>res, inibindo, assim, formações embrionárias <strong>de</strong><br />

organização social. De outro, a omissão, a não-intervenção, a postergação da ação<br />

do Estado, dando lugar à implantação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res oriundos do tráfico <strong>de</strong> drogas e<br />

armas, o chamado po<strong>de</strong>r paralelo, que substitui o Estado no papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarticulador<br />

<strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s. Nesse hiato, enquanto isso, ganha proveitoso espaço a<br />

produção <strong>de</strong> (<strong>de</strong>s)informação diuturnamente <strong>de</strong>ficiente e equivocada pelo problema<br />

da formação do po<strong>de</strong>r capilar do Estado. Dentre tais ações erráticas, tira proveito o<br />

Estado, quando não se capitaliza na conveniência do imaginário social reinante<br />

acerca do cerne da violência.<br />

A (<strong>de</strong>s)informação não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> funcionar como combustível duplamente útil<br />

para banalizar o agravamento e a morte das vítimas da violência e para a<br />

perpetuação do rótulo dos in<strong>de</strong>sejáveis sociais. O en<strong>de</strong>reçamento da violência é<br />

utilitariamente legitimado, justificando-se o aumento dos índices como saneamento<br />

social, ao se consi<strong>de</strong>rar, por uma orquestrada inversão simbólica, a vítima como<br />

bandido exterminado.<br />

O imaginário do preconceito <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser privativo da polícia, ganha a mídia e<br />

alcança a socieda<strong>de</strong>. Serve ao consumo, pelos meios <strong>de</strong> comunicação, à<br />

reafirmação das divisões e à justificação da exclusão. Mais do que isso, moldada a<br />

interesses i<strong>de</strong>ológicos e/ou mercadológicos, a (<strong>de</strong>s)informação bem inoculada na<br />

mídia, apoteoticamente transforma a violência em espetáculo, inverte via <strong>de</strong> regra os<br />

vilões, presta-se à criação <strong>de</strong> notícia interessada, facilita a perpetuação <strong>de</strong><br />

estereótipos, pavimenta o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> convencimento interesseiro <strong>de</strong> políticos e<br />

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