Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Consi<strong>de</strong>rações finais: – Capítulo 6 171<br />
inseminadas estão o interesse pessoal, a auto-realização, a remuneração por<br />
produtivida<strong>de</strong>, o operário-padrão disciplina do produtivo e criativo, qualificação<br />
pessoal, autoconhecimento, auto-<strong>de</strong>safio, empreen<strong>de</strong>dorismo, competitivida<strong>de</strong> e<br />
outras. Incutiu-se a idéia do eu e da realização pessoal junto com a competição, no<br />
sentido <strong>de</strong> não apenas transferir para o trabalhador não o lucro, mas as<br />
responsabilida<strong>de</strong>s pela produção e pelo tamanho do contracheque; mas, também,<br />
<strong>de</strong> fazé-lo aceitar o encolhimento da remuneração como sendo proporcional às suas<br />
qualida<strong>de</strong>s e ao seu empenho pessoal. Vê-se amordaçado para reivindicar ante as<br />
justificativas <strong>de</strong> que ele próprio é responsável pelo fracasso e pela qualificação<br />
pessoal que não tem, e a empresa precisa, mas se <strong>de</strong>svencilha em investir,<br />
transferindo ao eu, ao indivíduo, o risco, a qualificação e a introjeção da culpa pelo<br />
baixo salário ou pelo <strong>de</strong>semprego.<br />
A outra i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> saberes organizacionais foi direcionada à organização da<br />
comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> mora o trabalhador. Curiosamente aí se inocula não o<br />
individualismo, mas o comunitarismo, o gregarismo, a solidarieda<strong>de</strong>, a participação,<br />
o mutirão e todo o universo subjacente. Lá no trabalho, o trabalhador é<br />
responsabilizado pela míngua ou falta <strong>de</strong> contracheque. Aqui, na casa, tem que ser<br />
responsabilizado também pela sua própria sorte, no momento em que o po<strong>de</strong>r do<br />
mercado forçou o Estado a recuar nas suas funções <strong>de</strong> apoio social à moradia,<br />
educação, saú<strong>de</strong>, lazer, transporte, entretenimento etc.<br />
O incentivo à organização comunitária é uma forma <strong>de</strong> transferir às pessoas<br />
ônus sociais dos quais o Estado se <strong>de</strong>sobriga e repassa, saindo pela porta dos<br />
fundos. Lá no trabalho, como cá na comunida<strong>de</strong>, a lógica é a mesma – a<br />
sobrevivência sob risco e provimento próprios. Ao mesmo tempo, permite ao Estado<br />
proclamar <strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>, quando faz<br />
da associação <strong>de</strong> moradores seu lugar–tenente da obrigação com os ônus sociais,<br />
sem repassar-lhes os bônus e sem conce<strong>de</strong>r-lhes genuíno po<strong>de</strong>r e muito menos<br />
autorida<strong>de</strong>. Não por acaso, a conclamação à participação comunitária é criticada<br />
como mecanismo legitimador.<br />
Sob todo esse processo i<strong>de</strong>ologicamente em duas direções vitais, caras ao<br />
trabalhador – casa e trabalho, o substrato que fica visível, palpável, real, pois que<br />
ele atinge a jugular, é o <strong>de</strong>samparo social em estreita reciprocida<strong>de</strong> com a violência,