Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
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DROGA DE DISCURSEIRA POLÍTICO-EDUCACIONAL – Capítulo 4<br />
vinham <strong>de</strong> não se sabe on<strong>de</strong> e iam para on<strong>de</strong> poucos sabiam, sem<br />
engajamento em qualquer PROJETO POLÍTICO DE SOCIEDADE<br />
PÚBLICA, mediado pela palavra ou pela ação. Em situações crônicas <strong>de</strong><br />
carência, viviam com a necessida<strong>de</strong> e a certeza peremptória <strong>de</strong> que, ao<br />
menos, os mínimos vitais <strong>de</strong>viam ser garantidos (grifo nosso, p.57).<br />
Entre os homens livres <strong>de</strong> hoje em nada parece diferir essa herança do<br />
código do sertão que, por sua vez<br />
é, <strong>de</strong> certa forma, hoje reposto e transfigurado nas práticas <strong>de</strong><br />
criminalida<strong>de</strong> violenta dos gran<strong>de</strong>s centros urbanos, quando<br />
observamos, por exemplo, A LÓGICA DA GUERRA ENTRE<br />
QUADRILHAS RIVAIS POR PONTOS DE VENDAS DE DROGAS NOS<br />
ESPAÇOS POBRES e <strong>de</strong>primidos das cida<strong>de</strong>s.(grifo nosso p.58).<br />
Hoje, mais selvagem, o capitalismo menos se compa<strong>de</strong>ce com a miséria do<br />
povo e menos abre espaço para o exercício da liberda<strong>de</strong> no público. A compaixão,<br />
por não ser mediada pela palavra e por se traduzir, <strong>de</strong> fato, em resposta objetiva e<br />
expedita à triste impressão visual, estética e moral que o espetáculo da pobreza<br />
apresenta, ela respon<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma reativa. Em Arendt (1990), citada por Côrtez<br />
(2003), tem-se que o sofrimento acalentado pela compaixão, por não ser<br />
transfigurado e transcendido pelos processos <strong>de</strong> persuasão, negociação e acordo,<br />
chama por respostas diretas e rápidas, isto é, invariavelmente, impõem a violência.<br />
Assim colocando, Arendt quer, justamente, chamar a atenção para a perversida<strong>de</strong><br />
política e suas conseqüências para o estabelecimento do terror e para a reposição<br />
da tirania pela Revolução Francesa. É preciso sublinhar que<br />
“os homens da revolução” renunciaram à fundação da liberda<strong>de</strong> em nome<br />
da necessida<strong>de</strong> peremptória da fome, da se<strong>de</strong>, do frio, do teto que<br />
clamavam e pediam para o povo miserável. Ser livre per<strong>de</strong>u a importância<br />
política diante da urgência da reprodução do processo vital, mais do que<br />
isso, parecia apenas mais um privilégio diante do espetáculo da<br />
pobreza.(i<strong>de</strong>m,p.56)<br />
Sabidamente, a mobilização da necessida<strong>de</strong> como estratégia <strong>de</strong><br />
arregimentação do povo pelos homens da revolução, durante a Revolução<br />
Francesa, se <strong>de</strong>sdobrou na paixão da compaixão pelos pobres, doentes e<br />
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