Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
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DROGA DE DISCURSEIRA POLÍTICO-EDUCACIONAL – Capítulo 4<br />
<strong>de</strong>svalidos e o elogio das virtu<strong>de</strong>s inerentes à condição miserável que se tornou uma<br />
arma contra a empáfia das camadas ricas, a corrupção e o vício.<br />
É bem verda<strong>de</strong>, no entanto, que a selvageria não veio se tornando apanágio<br />
apenas do capitalismo. A medida se expandiu iníquo e perverso com a pobreza,<br />
<strong>de</strong>svirtuaram-se, também, a compaixão e a forma <strong>de</strong> elogio às virtu<strong>de</strong>s em nome<br />
<strong>de</strong>sta mesma pobreza. Nem tanto mais a ela se <strong>de</strong>dica e em prol <strong>de</strong>la se luta.<br />
Mesmo em Marx, da juventu<strong>de</strong> à maturida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu pensamento, verificou-se<br />
uma clara inversão dialética dos sentidos da necessida<strong>de</strong>. Na juventu<strong>de</strong>, a<br />
necessida<strong>de</strong> escancarada na pobreza abjeta é atribuída à violência da exploração<br />
do trabalho, e, na maturida<strong>de</strong>, a necessida<strong>de</strong> causada por fatores econômicos é<br />
atribuída à violência da opressão.<br />
Arendt (1990), a seu turno, invoca o contraponto histórico da Revolução<br />
Francesa a Revolução Americana, exatamente pela ausência do estado <strong>de</strong> pobreza<br />
no caso americano. Ali a revolução não se <strong>de</strong>u por imposições da necessida<strong>de</strong>,<br />
prescindindo seus homens <strong>de</strong> empenharem-se na questão social, para eles tida<br />
como um fenômeno primordialmente pré-político. Na Revolução Americana, seus<br />
teóricos tinham a convicção <strong>de</strong> que<br />
muito pior do que a condição pré-política <strong>de</strong> miséria, carência e pobreza<br />
era a ‘obscurida<strong>de</strong>’ e a invisibilida<strong>de</strong> que essa condição impõe aos<br />
homens, era a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercer a excelência – atributo<br />
propriamente político – nos negócios humanos, junto e ante outros<br />
homens, num espaço concreto <strong>de</strong> permutação da palavra e da ação.<br />
(i<strong>de</strong>m, grifo nosso, p.55)<br />
Hoje, mais do que superação pessoal das necessida<strong>de</strong>s, e muito além da<br />
superação proclamada em nome das necessida<strong>de</strong>s coletivas da comunida<strong>de</strong>,<br />
ban<strong>de</strong>ira sempre hasteada pelas quadrilhas do tráfico, o locus da questão leva a<br />
remeter - quando não predominantemente a lastimáveis interesses, puramente<br />
pessoais e vaidosos <strong>de</strong> disputa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r – a <strong>de</strong>safios que essa obscurida<strong>de</strong> e<br />
invisibilida<strong>de</strong> estigmatizadas pela pobreza que, afora a oratória dos discursos <strong>de</strong><br />
promessa, ainda rondam as comunida<strong>de</strong>s carentes e esquecidas pelo po<strong>de</strong>r público<br />
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