Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ
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DROGA DE CENÁRIO SOCIAL E DA PROPAGANDA POLÍTICA OFICIAL – Capítulo 2<br />
atração, um fascínio, que transcen<strong>de</strong> o próprio ato da violência, criando em torno<br />
dos grupos um significado <strong>de</strong> glória, <strong>de</strong> sedução. É como se a violência reinasse<br />
triunfante proporcionando uma sensação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> potência.<br />
Há semelhanças entre as gangues americanas e as galeras cariocas<br />
(GUIMARÃES, 2003). Existem indícios <strong>de</strong> que estas últimas buscam imitar formas<br />
<strong>de</strong> ação <strong>de</strong> suas correspon<strong>de</strong>ntes norte-americanas. Foram feitas referências às<br />
semelhanças entre elas, não só na perspectiva <strong>de</strong> suas características, formas <strong>de</strong><br />
organização e <strong>de</strong> atuação, mas dos processos nos quais teriam sido geradas.<br />
Freqüentemente, observa-se o cerco sistemático e permanente dos grupos da<br />
escola, por longos períodos. Galeras (op.cit.) e narcotráfico se interconectam nos<br />
processos, através dos quais submetem as populações locais. Pela ação do<br />
narcotráfico, constatamos a utilização <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> jovens a ele subordinados como<br />
instrumentos <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> seus negócios e <strong>de</strong> ampliação da área sob seu<br />
controle. A escola se apresenta, pois, como um dos espaços sociais em torno dos<br />
quais galeras e narcotráfico esten<strong>de</strong>m suas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle, interagindo, <strong>de</strong> forma<br />
mais ou menos articulada, com outras dimensões da vida do universo que estamos<br />
focalizando – áreas <strong>de</strong> moradia, namoro, bailes, fato que leva a refletir sobre a forma<br />
como os jovens moradores convivem nesses espaços, nessas áreas dominadas pelo<br />
narcotráfico.<br />
Nas quadrilhas <strong>de</strong> jovens traficantes, nos bairros pobres e favelas do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, a partir da década <strong>de</strong> 1980, encontramos o mesmo fascínio pelas armas, o<br />
mesmo po<strong>de</strong>r imposto pelo terror aos moradores do local, on<strong>de</strong> atuam, a mesma<br />
preocupação com os nomes das organizações – comandos e falanges, a mesma<br />
<strong>de</strong>fesa até a morte <strong>de</strong> um orgulho masculino construído sobre o comando do<br />
território obtido – fato observado entre as gangues.<br />
Mas as relações da quadrilha com o bairro são muito mais ambivalentes que<br />
as da gangue, além <strong>de</strong> muito mais recentes. O ponto principal da aceitação da<br />
presença da quadrilha no local é a <strong>de</strong>fesa da vizinhança transformada em território<br />
vigiado pela quadrilha contra bandidos <strong>de</strong> outras vizinhanças e ladrões ou pivetes<br />
que não respeitam os moradores.<br />
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