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Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ

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DROGA DA VIOLÊNCIA FORMIDÁVEL – Capítulo 3<br />

medo para que um eventual olhar compassivo possa ser logo suplantado por uma<br />

atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> negação e afastamento?<br />

Na visão <strong>de</strong> Ron<strong>de</strong>lli (1997), mais do que retratar a violência como pressupõe<br />

a sua função, a mídia constrói um imaginário a ser disseminado, transformando-se,<br />

assim num participante ativo da correia da violência, não somente projetando à cena<br />

pública os conflitos localizados, como também construindo representações<br />

potencializadoras das práticas sociais que difun<strong>de</strong> o seu serviço. Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser,<br />

portanto, parte integrante da própria violência que cuida <strong>de</strong> divulgar, banalizar,<br />

espetacularizar, sensacionalizar... Sendo um <strong>de</strong>terminado modo <strong>de</strong> produção<br />

discursiva, com seus modos narrativos e suas rotinas produtivas próprias, capazes<br />

<strong>de</strong> estabelecer sentidos sobre o real no processo <strong>de</strong> sua apreensão e relato, a<br />

violência por ela veiculada faz parte da própria realida<strong>de</strong> da violência. Sem a<strong>de</strong>ntrar<br />

na questão do monopólio dos meios <strong>de</strong> comunicação, e <strong>de</strong> a quem e a quais<br />

interesses servem, não se ignora o seu po<strong>de</strong>r inerente <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> convenientes<br />

interpretações e sentidos sociais e do modo como faz circular no espaço público não<br />

apenas o discurso, mas sobremodo a prática social que se quer difundir o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

inoculação <strong>de</strong> imaginário popular da violência.<br />

Não por acaso, para Ortiz (2003, p.14), é sempre polêmica qualquer reflexão<br />

a partir <strong>de</strong> um ato <strong>de</strong> violência. Visto na sua abrangência, certamente remete a<br />

razões históricas, moldurado numa ca<strong>de</strong>ia interpretativa bem mais complexa <strong>de</strong><br />

argumentos. Qual seja a narrativa circulante, a mente do público po<strong>de</strong> oscilar entre a<br />

faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão e a reprovação ética, muito embora, adianta o autor, a<br />

con<strong>de</strong>nação moral não ajuda a compreensão. A indignação não po<strong>de</strong> obnubilar a<br />

mente a ponto <strong>de</strong> levar ao <strong>de</strong>sconhecimento do significado do ato. A violência,<br />

malgrado se possa aceitar, é intestina à socieda<strong>de</strong>, pois insere-se na sua lógica.<br />

Uma lógica que ten<strong>de</strong> a se expandir e se transformar. Sobretudo, agora, reforçada<br />

pela or<strong>de</strong>m mundial que inaugura este século XXI, a violência se organiza em outro<br />

mol<strong>de</strong> mais amplo, distinto do monopólio que a confinava aos limites dos territórios<br />

nacionais. A globalização tratou <strong>de</strong> torná-la planetária, diluídas que foram as<br />

fronteiras dos estados nacionais e da separação entre o interno e externo, e entre<br />

nós e eles. Com a mídia também planetarizada tornou-se mais clara a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

se nomear um culpado sem rosto, <strong>de</strong>sterritorializado, <strong>de</strong> se <strong>de</strong>tectar o epicentro da<br />

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