Lorenzo Martins Pompilio Da Hora - Faculdade de Educação - UFRJ

DROGA DE CENÁRIO SOCIAL E DA PROPAGANDA POLÍTICA OFICIAL – Capítulo 2
Sem estrutura familiar e sem amparo do Estado na garantia dos direitos
constitucionais, muitas crianças de comunidades carentes do Rio crescem sem
referência de personalidade e longe das noções de cidadania. O menino da Rocinha
que sempre aparece empunhando fuzis imaginários durante operações policiais na
favela é ilustração exemplar: Declara não gostar nem de bandidos nem de polícia.
Conhece apenas dois mundos contrastantes: o morro, onde traficantes fortemente
armados apresentam-se com dinheiro e poder, e o asfalto – onde existe algo
chamado governo, logo associado aos homens fardados que invadem a comunidade
empenhados em ações das quais resultam perigosos tiroteios e morte.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO TRÁFICO DE DROGAS
A participação de jovens, no cenário do tráfico, parece não mais indignar a
sociedade. Tornaram-se comuns e cotidianas as cenas que ocupam a mídia
televisiva, escrita ou falada. Deveria ser um referencial de apelo à atenção da
comunidade mundial. É um mundo sombrio, em que o número de vítimas do tráfico
de drogas e das milícias, cujos corpos poucos foram encontrados pela polícia, são
54 (cinqüenta e quatro) vezes maior do que o de pessoas sumidas durante os
governos de exceção (AMORA et al, 2007). O direito à vida, dogma constitucional
que origina todos os outros direitos fundamentais e resultado de um longo processo
histórico, do qual são importantes marcos a Declaração dos Direitos da Virgínia, em
1776, nos Estados Unidos; a Proclamação dos Direitos do Homem e do Cidadão, em
1789; e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela ONU.
São 10.464 desaparecidos catalogados de 1993 até junho de 2007 10 . Desse
total, 70% (setenta por cento), ou melhor, 7.324 (sete mil, trezentos e vinte e quatro
casos) estariam relacionados à ação do tráfico, e, mais recentemente, das milícias 11 .
Na lacuna deixada pelo Estado, a ditadura imposta por esses grupos produziu, num
período de 14 (quatorze) anos, 54 (cinqüenta e quatro) vezes mais desaparecidos
10 Dados do Serviço de Descoberta de Paradeiros da Delegacia de Homicídios, incluindo dados das
unidades da Zona Oeste e da Baixada Fluminense.
11 Policiais militares e ex-policiais que atuam de forma marginal nas áreas menos favorecidas.
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