memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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entrava em trabalho <strong>de</strong> parto examinava, olha está em trabalho<br />
<strong>de</strong> parto, pronto. Aí eu <strong>da</strong>va um banho nela, aprontava e ficava<br />
esperando. Ficava an<strong>da</strong>ndo por ali, eu ia cozinhar, eu ia lavar<br />
as roupas, fazendo as coisas e elas ficavam do meu lado. E eu<br />
via quando <strong>da</strong>va uma dorzinha, via como é que estava<br />
progredindo, já pela dor, eu sabia mais ou menos como é que<br />
estava a dilatação. Elas ficavam aqui e aju<strong>da</strong>vam a fazer<br />
comi<strong>da</strong>, como se elas estivessem em casa. E cui<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong>s minhas<br />
crianças quando eu saia. Quando ganhavam o filho <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
vinte e quatro horas iam embora. No tempo em que eu tinha<br />
jipe, às vezes eu levava elas embora para casa, ou o meu<br />
marido levava. Eram minhas clientes, minhas amigas. Quando eu<br />
estava aqui em casa e tinha parturientes às vezes vinha alguém<br />
me chamando e não era tão longe. Aí o meu marido já ficava <strong>de</strong><br />
prontidão, se alguma começasse a sentir, meu marido ia atrás<br />
<strong>de</strong> mim, me chamava <strong>de</strong> volta. E se não, quando eu saia, eu<br />
perguntava: vocês estão to<strong>da</strong>s bem ain<strong>da</strong>? Ninguém está sentindo<br />
na<strong>da</strong>? Não, ninguém está sentindo na<strong>da</strong>. Eu vou lá aten<strong>de</strong>r e se<br />
<strong>de</strong>morar muito eu venho aqui em casa ver vocês, para ver se<br />
está tudo bem. Se entrasse em trabalho <strong>de</strong> parto a noite, não<br />
tinha problema, não acor<strong>da</strong>va ninguém <strong>da</strong> casa Fazia os partos<br />
<strong>de</strong> noite. Meus filhos, como eu tinha uma casinha anexa a<br />
minha, antes <strong>da</strong> garagem, botava meus filhos a dormirem ali.<br />
Era um poiolzinho que tinha ali, eu botei umas camas ali e as<br />
crianças <strong>de</strong> noite dormiam lá para as parturientes po<strong>de</strong>rem<br />
dormir aqui <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa. E não acor<strong>da</strong>va ninguém porque eu<br />
nunca <strong>de</strong>ixei elas gritarem muito, sempre conversava com elas e<br />
elas me atendiam. Dizia que a criança não sai pela boca. Não<br />
adianta vocês gritarem para sair pela boca, tem que fazer é<br />
força para baixo. Dizia, se acalma, porque o mundo não vai se<br />
acabar e nem a criança po<strong>de</strong> sair pela boca porque a boca é<br />
muito pequena e a cabeça não passa. Olha, eu conversava com<br />
elas, e elas me atendiam!<br />
Eu quero contar um fato que aconteceu em Tubarão. Eu<br />
tinha marcado uma consulta e estava esperando quando <strong>de</strong><br />
repente veio uma parturiente: tinha um médico ali e parecia<br />
que ele não sabia muito bem fazer cesariana, e tinha uma outra<br />
parteira que também não era muito bem uma parteira. Chegou uma<br />
mulherzinha bem fraquinha, bem amarelinha gritando: ai, me<br />
opera, me opera, eu vou morrer, me opera. De repente abriram a<br />
porta e me viram, e todo mundo veio me abraçando e falando:<br />
graças a Deus D. Deta que tu chegaste! Então eu perguntei: o<br />
que está acontecendo? Disseram: essa mulherzinha, nós não<br />
sabemos mais o que fazer com ela! Aí eu olhei bem para ela e<br />
disse: a senhora quer saber <strong>de</strong> uma coisa? a senhora está<br />
bastante fraca e se for operar corre o risco <strong>de</strong> morrer. Agora,<br />
se a senhora se aju<strong>da</strong>r é só umas duas, três dorzinhas e o<br />
neném vai nascer. Eu vou <strong>de</strong>ixar a senhora bem calminha agora,<br />
a senhora <strong>de</strong>scansa bem, vamos fazer um sorinho para a senhora<br />
ficar mais forte, vamos fazer uma injeção <strong>de</strong> vitamina na veia,<br />
e <strong>da</strong>í a pouco eu vou fazer uma injeçãozinha na senhora e a<br />
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