memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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garantia <strong>de</strong> humanização conforme aparece no trabalho <strong>de</strong> Castilho quando faz referência à<br />
Casa <strong>de</strong> Parto <strong>de</strong> Sapopemba em São Paulo:<br />
“Em outubro <strong>de</strong> 1998, foi inaugura<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Família/<br />
QUALIS em São Paulo no bairro <strong>de</strong> Sapopemba, a primeira Casa <strong>de</strong> Partos, on<strong>de</strong><br />
to<strong>da</strong> a assistência é <strong>da</strong><strong>da</strong> por enfermeiras obstetras e não há médicos na instituição.<br />
O padrão <strong>de</strong> atendimento na Casa <strong>de</strong> Parto é estabelecido pela tecnologia apropria<strong>da</strong><br />
para assistir o nascimento e o parto” (CASTILHO 2000, p.38).<br />
A partir <strong>da</strong>í a autora vai apresentar uma série <strong>de</strong> números acerca <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong><br />
parto, uso <strong>de</strong> ocitocina, luvas, episiotomias etc., importantes <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma visão <strong>da</strong><br />
tecnologia, mas não cita aspectos relevantes do fato <strong>de</strong> que esta Casa <strong>de</strong> Partos mantém um<br />
vínculo estreito com as famílias, seu mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atendimento diferencia-se do mo<strong>de</strong>lo<br />
hospitalar, não estando atrela<strong>da</strong> às rotinas liga<strong>da</strong>s às dietas, horários <strong>de</strong> visitas, além <strong>de</strong><br />
relativizar as crenças <strong>da</strong>s mulheres, <strong>de</strong>ntre outros fatores. Neste sentido concordo com a<br />
afirmação <strong>de</strong> Monticelli quando diz que<br />
O que se po<strong>de</strong> observar é que a abor<strong>da</strong>gem ritual no campo <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, embora<br />
importante no sentido <strong>de</strong> trazer contribuições à área, não tem sido objeto sistemático<br />
<strong>de</strong> estudos. No campo <strong>da</strong> enfermagem, alguns trabalhos vêm sendo realizados.<br />
Porém, a maior parte <strong>de</strong>stacando o trabalho interno dos enfermeiros e a estrutura do<br />
cui<strong>da</strong>do em ambientes hospitalares, estes, na maioria <strong>da</strong>s vezes, <strong>de</strong> conotação<br />
exploratória, <strong>de</strong> caráter técnico e funcionalista. No Brasil, especificamente, trabalhos<br />
<strong>de</strong>ssa natureza são inexistentes. Parece existir uma lacuna <strong>de</strong> conhecimentos no que<br />
diz respeito à abor<strong>da</strong>gem dos rituais <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do que são <strong>de</strong>senvolvidos pelos<br />
próprios indivíduos, famílias e grupos, em seus contextos culturais .(MONTICELLI<br />
1997, p.58)<br />
Parece que uma mu<strong>da</strong>nça na abor<strong>da</strong>gem sobre parto e nascimento levaria a uma<br />
distinção fun<strong>da</strong>mental em termos <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do durante o mesmo: ele seria visto muito mais<br />
como um processo complexo envolvendo várias dimensões <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana que um evento<br />
isolado que se dá ora no domicílio, como ocorria anteriormente, ora no hospital como ocorre<br />
majoriatariamente na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>. A meu ver essa mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> viés culminou na discussão<br />
sobre humanização e que é mister abor<strong>da</strong>r um pouco o seu significado antes <strong>de</strong> prosseguir.<br />
Em diferentes dicionários <strong>da</strong> língua portuguesa consultados há obviamente uma<br />
convergência <strong>de</strong> <strong>de</strong>finições que traduzem “humanização” como “ato ou efeito <strong>de</strong> humanizar”.<br />
À consulta do significado <strong>de</strong> “humanizar” encontramos no dicionário Aurélio Buarque<br />
(2002): “ Tornar humano; <strong>da</strong>r condição humana a; humanar; tornar benévolo, afável tratável”<br />
e em Silveira Bueno (1992), “Tornar humano; fazer vir à razão; tornar tratável; civilizar”. A<br />
palavra humanização ou o seu efeito, humanizar, leva sempre a uma reflexão filosófica do seu<br />
significado que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia no humanismo.<br />
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