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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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Às vezes ficava na casa <strong>de</strong>las muito tempo porque eles me chamavam com muito<br />

tempo <strong>de</strong> antecedência, e <strong>de</strong>morava e eu não saía porque ficava com pena <strong>de</strong> sair e<br />

<strong>de</strong>ixar a mulher <strong>de</strong>sampara<strong>da</strong>. Elas ficavam me pedindo para não sair e eu não vinha<br />

embora. Nosso Deus era ruim isso, porque eu tinha a minha casa, os meus filhos. E<br />

<strong>de</strong>pois a miséria <strong>da</strong>s casas, só vendo para enten<strong>de</strong>r como era difícil fazer parto<br />

domiciliar. (D.Tereza)<br />

Para resolver esses problemas elas criavam estratégias que facilitassem seu trabalho:<br />

D. Deta na região sul <strong>de</strong> Santa Catarina e D. Geral<strong>da</strong> no norte <strong>de</strong> Minas Gerais chegaram a<br />

manter quartos em suas residências on<strong>de</strong> acolhiam as gestantes que moravam mais distante e<br />

ali mesmo faziam os partos. D. Tereza em Jequitaí usou um pequeno “posto” <strong>de</strong> atendimento<br />

à saú<strong>de</strong> próximo à sua casa on<strong>de</strong> atendia e realizava os partos.<br />

Por to<strong>da</strong> essa conjuntura exposta até aqui e pelo teor <strong>da</strong>s narrativas, po<strong>de</strong>-se inferir que<br />

para quem se <strong>de</strong>dicava a fazer partos o hospital em todos os sentidos era bem vindo. Mas a<br />

aceitação por parte <strong>da</strong>s mulheres à hospitalização do parto no início não foi muito boa. As<br />

questões culturais liga<strong>da</strong>s principalmente aos hábitos alimentares e à sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong> marca<strong>da</strong><br />

principalmente pelo pudor, vergonha <strong>de</strong> expor o corpo `as pessoas do sexo masculino ou mais<br />

jovens, contribuíram muito para essa resistência inicial ao parto hospitalar.<br />

Quanto ao aspecto <strong>de</strong> “como faziam” partos, acredito que a leitura <strong>da</strong>s narrativas<br />

mostra que não houve uma preocupação <strong>da</strong>s minúcias técnicas do ato <strong>de</strong> partejar e sim do<br />

contexto do parto como um todo. Entretanto, do ponto <strong>de</strong> vista técnico é interessante observar<br />

que to<strong>da</strong>s apren<strong>de</strong>ram a fazer episiotomia, procedimento que elas mesmas realizavam e<br />

aceitavam sem questionamentos. Apenas D. Geral<strong>da</strong>, cujo perfil é o mais próximo <strong>da</strong> parteira<br />

curiosa tradicional não aceita muito e contesta.<br />

Eu e mesmo as outras <strong>parteiras</strong> não era assim <strong>de</strong> fazer episiotomia sabe. Fazia assim<br />

normal enten<strong>de</strong>, sempre coincidia <strong>de</strong> romper sozinho, então a gente <strong>da</strong>va os banhos.<br />

A gente banhava com folha <strong>de</strong> goiabeira e com mentrato, com essas plantas que eles<br />

usavam. Banhava vários dias e <strong>da</strong>va pra beber o chá <strong>de</strong> mentrato. Não fazia<br />

epsiotomia porque não tinha condições. Eu botava a mulher <strong>de</strong> repouso, não <strong>de</strong>ixava<br />

ela ficar levantando e assim sarava, muitas vezes sarava. Às vezes eu fazia um parto<br />

hoje, e quando eu ia fazer outro, já tinha sarado, não tinha na<strong>da</strong>. Agora não, eles<br />

cortam, eles não esperam, eles cortam. Agora eu acho, eu tenho para mim que eles<br />

cortam até o que não seja pra cortar. Eles não tem paciência <strong>de</strong> ficar esperando como<br />

eu ficava não! (D. Geral<strong>da</strong>).<br />

Nota-se que esse procedimento foi tão generalizado e incorporado à tecnologia do<br />

parto que até mesmo D. Tereza, cujo curso foi muito rápido, apenas três meses, relata saber<br />

executá-lo:<br />

E quando eu fazia os partos domiciliares, eram feitos no quarto <strong>da</strong> parturiente. Ela<br />

ficava <strong>de</strong>ita<strong>da</strong> e encolhia as pernas, e eu muitas vezes tinha até que subir na cama,

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