13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

toque em mim não, faça você Eunice. Porque elas ficavam<br />

constrangi<strong>da</strong>s com médico homem e a mão <strong>de</strong> homem é mais pesa<strong>da</strong>,<br />

maior, elas não gostavam não.<br />

As mulheres sentiam-se bem porque no hospital tem tudo. Se<br />

dá uma hemorragia, se o neném precisa <strong>de</strong> oxigênio e tem mais<br />

controle <strong>de</strong> enfermagem, é muito importante isso aí. Acho que<br />

em casa eu não me arriscaria a fazer na<strong>da</strong>. Quando eu tive<br />

filhos foi na Carlos Corrêa, Dona Army que fez os partos <strong>de</strong><br />

todos eles. Era parteira já naquele tempo. Meu filho mais<br />

velho está com quarenta e dois anos. Outro dia eu a encontrei<br />

lá na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essas que moravam no interior é que faziam<br />

partos em casa: a Dona Sofia fazia parto em casa, Dona<br />

Florentina, Dona I<strong>da</strong>. Agora na materni<strong>da</strong><strong>de</strong> as <strong>parteiras</strong> só<br />

acompanhavam mesmo na sala <strong>de</strong> parto, <strong>de</strong>pois vinha a aten<strong>de</strong>nte,<br />

levava o neném, levava a mulher e a gente não acompanhava.<br />

Quer dizer a gente ficava com elas no pré parto e no parto<br />

apenas.<br />

Parece que na Carlos Corrêa a parteira era mais valoriza<strong>da</strong>,<br />

todos diziam isso, inclusive os médicos. Por causa do estudo!<br />

A Carmela Dutra é uma materni<strong>da</strong><strong>de</strong> escola e eles queriam que a<br />

gente soubesse muita teoria, e teoria a gente não tinha muito,<br />

tinha mais era prática. Todo dia tu faz a mesma coisa, tu vai<br />

pegando noção, estás ali vendo, tu tá botando a mão, tu tá<br />

trabalhando. Agora teoria só aprimora a mente e o ensinamento<br />

<strong>da</strong> pessoa, porque se tu vai fazer é muito diferente <strong>da</strong>quilo<br />

que queres aplicar ali com a teoria. Tens que fazer todo dia<br />

para tu sentir principalmente o parto. Vai fazer um parto:<br />

bota a luva, aquela coisa to<strong>da</strong>, faz um toque. Com a teoria tu<br />

não vais apren<strong>de</strong>r não é, um toque tu apren<strong>de</strong> sentindo, vendo<br />

ali na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>: já toca na cabecinha, oh! isso aqui é o<br />

narizinho, às vezes já toca no nariz, na testinha <strong>da</strong> criança.<br />

Ou então isso aqui não é a cabeça, procura e é o pezinho, a<br />

mão. Não nos valorizavam porque a gente não tinha um estudo<br />

universitário, fazia mesmo mais era prática.<br />

Agora, com as mulheres que a gente fez o parto é diferente:<br />

encontra na rua é aquela festa! Tu vês já está com os filhos<br />

mocinhos e dizem: aquela ali que fez o parto <strong>da</strong> mãe. Mulheres<br />

que eu fiz parto <strong>de</strong> gêmeos: meu Deus do céu, ficam assim numa<br />

felici<strong>da</strong><strong>de</strong> quando me encontram, até os filhos também já são<br />

mocinhos, e ficam naquela felici<strong>da</strong><strong>de</strong> porque foi a parteira <strong>da</strong><br />

mãe. E não são só uma ou duas, são muitas! Sempre que a gente<br />

encontra tem aquele carinho porque fez o parto.<br />

A gente era <strong>de</strong>svaloriza<strong>da</strong> porque não tinha estudo como eu<br />

já disse. Mas só mesmo para a enfermagem. Porque os médicos<br />

valorizavam bastante, tinham confiança na gente, era bom para<br />

eles, porque a gente não se arriscava a fazer besteira, se via<br />

que o negócio não era para nós já chamava o médico, já<br />

colocava a paciente na maca, e comunicava ao médico que já<br />

estava levando a paciente para o centro cirúrgico. A gente<br />

esperava só 15 minutos para a placenta sair, e não saindo em<br />

15 minutos eu levava para o centro cirúrgico, porque com a<br />

72

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!