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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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cangalha, pulava pra baixo, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu nunca tive ameaça<br />

<strong>de</strong> aborto. Às vezes tinha um cavalo muito louco, então ele<br />

começava a pular, pular, ao redor <strong>de</strong> mim, e eu não podia<br />

an<strong>da</strong>r, eu “apalanquiava” ele no sebo, e subia em cima <strong>da</strong><br />

cangalha abria o cabresto e soltava ele. Ele com o cargueiro<br />

cheio <strong>de</strong> “prato” e eu no meio <strong>da</strong> cangalha, às vezes grávi<strong>da</strong>,<br />

barrigu<strong>da</strong> em cima do cavalo. Eu viajei à cavalo até a ultima<br />

hora <strong>da</strong> gravi<strong>de</strong>z e nunca me fez mal. Eu me aposentei com<br />

cinqüenta e dois anos, e não queria me aposentar, chegou o<br />

tempo antes que eu esperava. Mas aí eu fiquei trabalhando<br />

ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>zesseis anos no hospital, fazendo parto e trabalhando<br />

no hospital e em tudo, porque não acharam ninguém que me<br />

substituísse. No final eu fui fazer uma viagem, fui para os<br />

Estados Unidos e fiquei um mês e meio por lá. Depois que<br />

voltei fiquei ain<strong>da</strong> uns dois meses lá e <strong>de</strong>pois saí<br />

<strong>de</strong>finitivamente. Eu vou lá no hospital ain<strong>da</strong> hoje às vezes<br />

quando tem muitas cirurgias, ou como voluntária aju<strong>da</strong>r um<br />

pouco. Porque o hospital, aquela casa lá é minha. Aquela casa<br />

eu aju<strong>de</strong>i a fun<strong>da</strong>r, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira fronha <strong>de</strong><br />

travesseiro fui eu que fiz. Antes <strong>de</strong> abrir o hospital, um mês<br />

inteiro eu costurei roupas <strong>de</strong> cama para o hospital. Depois nós<br />

trabalhamos dia e noite, nós não tínhamos horário para<br />

trabalhar. Não importava nem como salário, nunca pedi aumento<br />

porque eu queria mesmo que esse hospital ficasse um hospital<br />

do povo. O hospital é <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Médica Social Rural. Esse<br />

hospital, eu sempre digo, é um hospital familiar, porque é<br />

tudo gente <strong>da</strong>qui que trabalha ali <strong>de</strong>ntro, os médicos e todo o<br />

pessoal são todos conhecidos que trabalham ali <strong>de</strong>ntro, então é<br />

uma família. Também não tem aquele rigor que tem em outros<br />

hospitais. Muitas vezes queriam fazer aquele rigor, <strong>de</strong> não<br />

<strong>de</strong>ixar ninguém entrar <strong>de</strong>ntro do hospital quando não era hora<br />

<strong>de</strong> visita e eu sempre <strong>de</strong>ixava. Dizia para eles: por acaso se<br />

vocês vão à Florianópolis, chegam lá, tem um parente lá<br />

internado, não chegou bem na hora, não <strong>de</strong>ixam entrar, vocês<br />

voltam felizes? Às vezes tem pessoas que não tem horários <strong>de</strong><br />

serviço muito certo e não po<strong>de</strong>m vir na hora <strong>de</strong> visita marca<strong>da</strong><br />

pelo hospital.<br />

Quero contar uma história, porque <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo me interessei<br />

em ser parteira. Contava-se aqui que as crianças vinham <strong>da</strong>s<br />

tocas <strong>de</strong> bananeira, <strong>da</strong>s tocas <strong>de</strong> pedras, dos pau oco. Era<br />

assim que os pais explicavam para as crianças. Hoje em dia a<br />

coisa é diferente, mas naquele tempo tudo era muito escondido.<br />

Eu tinha uns quatro cinco anos, acreditava e brincava que eu<br />

era a parteira. Meu Deus eu ficava feliz: eu sentava no pasto<br />

em cima <strong>de</strong> uma cela velha ou num pau, botava a boneca no braço<br />

e ia levar esse neném pra uma mulher aqui, outra mulher lá,<br />

era assim, como é que po<strong>de</strong>! Daí, eu queria saber essa<br />

história, sempre estava alerta para essas coisas. E imagina<br />

que adulta, já parteira mesmo, um caso aconteceu: eu fui fazer<br />

um parto numa vizinha e quando eu ia passando em frente a<br />

outra casa uma jovem mulher me chamou e disse: D. Deta, eu<br />

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