13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

além <strong>de</strong> uma sala que era manti<strong>da</strong> pelo pessoal <strong>da</strong> região, as<br />

pessoas <strong>da</strong>vam uma contribuição, só que isso foi bem mais<br />

tar<strong>de</strong>. Se não fossem pacientes <strong>da</strong> enfermaria ou se não eram<br />

pacientes particulares, eram atendi<strong>da</strong>s porque pertenciam a<br />

algum <strong>da</strong>queles institutos que eu já falei: IAPTEC, IAPC, IAPI,<br />

que esses <strong>da</strong>vam segun<strong>da</strong> classe ou então elas pagavam. Dessa<br />

maneira o que existia era a enfermaria, a segun<strong>da</strong> classe, ou a<br />

primeira classe. Naquele tempo não tinha apartamento, era<br />

complementado muitas vezes pelo instituto, ou muitos pagavam<br />

particular a parte exce<strong>de</strong>nte. Mesmo essas particulares a gente<br />

atendia, esporadicamente o médico atendia. Os médicos faziam<br />

poucos, muito poucos partos. Também eles não tinham tempo para<br />

isso não é? Não tinham tempo porque eles atendiam os<br />

consultórios particulares em coisas que rendiam mais. Porque<br />

eu acredito que eles até nem tivessem um ganho como hoje eles<br />

têm nos hospitais, nas materni<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Tu já pensasse se um<br />

médico, que tem outras atribuições lá fora, fosse aten<strong>de</strong>r um<br />

parto em enfermaria? Era uma casa particular, não pagava. Isso<br />

não ficava conveniente financeiramente para eles.<br />

Nós, <strong>parteiras</strong> só recebíamos o salário <strong>da</strong> casa. Sabe qual é<br />

a minha aposentadoria hoje <strong>de</strong>sta materni<strong>da</strong><strong>de</strong>? Quatrocentos<br />

reais! Como eu exerci um cargo do Estado, também na<br />

materni<strong>da</strong><strong>de</strong>, que era para aplicar o BCG nas crianças, acabei<br />

sendo nomea<strong>da</strong> funcionária do Estado. Fiz mais por diletantismo<br />

porque afinal <strong>de</strong> contas aquilo não me ren<strong>de</strong>ria muita coisa<br />

economicamente. Como eu disse, bem próximo <strong>de</strong> me aposentar, eu<br />

fiz facul<strong>da</strong><strong>de</strong>. Eu me formei em <strong>de</strong>zoito <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> mil<br />

novecentos e setenta e seis. Mas a casa não me aproveitou como<br />

enfermeira mesmo não tendo enfermeira que trabalhasse lá à<br />

época. Faltando três meses para eu me formar na facul<strong>da</strong><strong>de</strong> eles<br />

admitiram uma enfermeira. Não me aproveitaram, sabes como é<br />

uma casa particular? As coisas são assim, não se po<strong>de</strong> esperar<br />

tudo, o reconhecimento monetário[...] Mas o que me gratifica<br />

mais é esse reconhecimento lá fora[...] Minha realização, como<br />

profissional que valeu muito! Até para o meu crescimento,<br />

porque tu sabes, o dinheiro é bom mas não é tudo! Então,<br />

quando eu me aposentei do Estado, já em fim <strong>de</strong> carreira, eu<br />

não carreei comigo os direitos <strong>da</strong> enfermagem e me aposentei<br />

com muito pouquinho. Mas juntando os dois, dá para a gente<br />

viver. Até porque não tenho <strong>de</strong>spesas com família porque sou<br />

solteira, tenho esse apartamento que comprei e estou por aí<br />

apren<strong>de</strong>ndo coisas.<br />

Mas há as compensações, vou contar um fato que ocorreu faz<br />

uns quarenta e poucos anos, cinqüenta anos não sei bem ao<br />

certo. Nós estávamos fazendo o curso ain<strong>da</strong> na materni<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu<br />

estava no segundo ano, 1947 por aí. Veio um telefonema <strong>de</strong> um<br />

lugar chamado Paulo Lopes, para que o médico, Dr. Zulmar,<br />

fosse aten<strong>de</strong>r uma senhora que ganhou neném mas a criança ficou<br />

com a cabeça presa, isso foi o que o telefonema nos trazia <strong>de</strong><br />

informação. Mas o Dr. Zulmar não ia sair <strong>da</strong>qui, e pediu para a<br />

parteira, aquela dona Vivi que me antece<strong>de</strong>u, para aten<strong>de</strong>r este<br />

82

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!