memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
outro. Acho que é porque nos casos <strong>de</strong> parto elas se entendiam<br />
melhor com mulher. Mulher com mulher se entendiam melhor do<br />
que homem com mulher. Eu acredito que um pouco elas tinham<br />
mesmo era vergonha <strong>de</strong> médico porque era homem. Então elas<br />
preferiam com a parteira. Nunca tive notícia <strong>de</strong> um parteiro<br />
homem, não, eu não conheci, to<strong>da</strong>s mulheres. Eu dizia para o<br />
médico: eu <strong>de</strong>ixo o hospital e trabalho nas casa como sempre<br />
fiz. Ele dizia: não porque aí para o nosso hospital fica muito<br />
feio, a senhora ficar trabalhando fora e trazendo as<br />
parturiente quando necessita <strong>de</strong> médico, <strong>da</strong>í é muito ruim isso.<br />
Então assim foi feito, e o padre publicou na igreja: a partir<br />
<strong>de</strong> agora os partos serão todos feitos no hospital. Vocês agora<br />
ao invés <strong>de</strong> buscar a parteira, vocês levam as parturientes já<br />
direto para o hospital. Elas primeiro não gostaram, mas <strong>de</strong>pois<br />
se habituaram e ninguém falou mais.<br />
Nos partos domiciliares eu fazia todos os procedimentos<br />
que fosse preciso: se eu enxergava que o períneo não seguia,<br />
eu fazia a tricotomia, a epsiotomia e <strong>de</strong>pois os pontos,<br />
suturava e tudo com bastante assepsia. Lavava e escovava bem<br />
as mãos, na água limpa, geralmente na água corrente. Só que<br />
naquele tempo, às vezes era até difícil ter água encana<strong>da</strong><br />
então a gente às vezes tinha que usar até “isabelinhas”. Mas<br />
era limpa, ariava tudo e quando eu chegava, eu já enxergava<br />
aon<strong>de</strong> é que estavam as coisas, e já ia mesmo me prevenindo.<br />
Tinha o costume <strong>de</strong> fazer tricotomia porque como é que tu faz<br />
uma higiene sem fazer uma tricotomia? Aprendi tudo isso no<br />
curso <strong>da</strong> Carlos Corrêa lá em Florianópolis, nós fizemos um<br />
curso muito bom, muito bom mesmo! Os nossos médicos diziam:<br />
olha, essas enfermeiras <strong>de</strong> alto padrão que hoje tem por aí,<br />
não po<strong>de</strong>m nem comparar com a senhora, pelo que a senhora faz e<br />
pelo que a senhora sabe fazer. Mas não fazia muitas<br />
episiotomias porque antigamente parece que as mulheres que<br />
trabalhavam na roça tinham mais elastici<strong>da</strong><strong>de</strong>, elas se<br />
movimentavam melhor do que hoje em dia. Elas tinham força para<br />
se aju<strong>da</strong>r, também o períneo parece que era mais elástico, elas<br />
eram umas mulheres mais forma<strong>da</strong>s. Hoje em dia qualquer criança<br />
já está tendo neném, nem está formado o períneo, já está tendo<br />
neném. Isso eu acho muito errado, essas relações sexuais entre<br />
adolescentes, isso era uma coisa que não podia acontecer e não<br />
<strong>de</strong>via acontecer. E hoje em dia o governo aju<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>, e<br />
previne, previne, e fazem comentários que tem que usar<br />
camisinha mas na<strong>da</strong>. Parece que a relação sexual é uma coisa<br />
obrigatória e eu acho que não <strong>de</strong>veria ser assim, eu acho muito<br />
difícil porque a gente não se criou com isso.<br />
Quando comecei a trabalhar no hospital também auxiliava<br />
cirurgias, tanto em campo como fora do campo provi<strong>de</strong>nciando<br />
todo o material necessário para qualquer cirurgia que se fazia<br />
no hospital. Eu sabia quando era uma histerectomia, quando era<br />
um problema <strong>de</strong> fígado, <strong>de</strong> vesícula, <strong>de</strong> estômago, apendicite,<br />
cesariana. Eu separava o material todo para ca<strong>da</strong> cirurgia. No<br />
hospital a gente tinha autoclave, tinha estufa, tinha tudo<br />
97