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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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um laboratório, e eles me man<strong>da</strong>vam aquele mundo <strong>de</strong> anestesia.<br />

Então a gente apren<strong>de</strong>u um pouco <strong>de</strong> anatomia não é, e tirava<br />

<strong>de</strong>nte, nunca teve problema não, nunca tive um problema <strong>de</strong><br />

hemorragia. Às vezes por infelici<strong>da</strong><strong>de</strong> ficava um pe<strong>da</strong>cinho <strong>de</strong><br />

raiz lá muito profundo que não tinha condições <strong>de</strong> pegar. Mas<br />

tiramos <strong>de</strong>nte <strong>de</strong>mais! Nesse tempo tinha umas convenções aqui<br />

em Cocos, uma vez por ano. Fui e passei acho que uma semana.<br />

na região. Fomos até Caninhãnha, e <strong>de</strong> lá fomos <strong>de</strong> caminhão. Da<br />

outra vez nós fomos no lombo <strong>de</strong> cavalo. Trouxeram os cavalos<br />

arriados e nós fomos. Lá extraía <strong>de</strong>nte, gente <strong>da</strong> roça, aquele<br />

povo todo, convenção evangélica, <strong>da</strong> igreja presbiteriana. E<br />

não sei quantas vezes vinha médico <strong>de</strong> São Paulo, e era preciso<br />

ver os casos que se apresentavam lá! Ca<strong>da</strong> um[...]Tinha um<br />

homem com um papo enorme, na altura do peito. Eu disse para o<br />

doutor: olha a situação <strong>de</strong>sse homem aqui, aquilo mole ,<br />

incomo<strong>da</strong>va ele, não sabe? E eu perguntei ao médico: o que vai<br />

fazer com isso? Ele disse: Faz uma incisãozinha, aqui por<br />

<strong>de</strong>ntro. Eu fiz a incisão. Tinha uma cuba que encheu <strong>da</strong>quele<br />

material sujo, secreção purulenta.<br />

Mas voltando ao assunto dos partos, quero contar como foi<br />

quando abriu o hospital e as mulheres <strong>de</strong>viam ganhar filhos no<br />

hospital: muitas queixas!.Foram muitos protestos: D. Oliveira,<br />

a sra. não vai para o hospital não. No hospital a gente tem<br />

que comer <strong>de</strong> tudo, fazer tudo que eles querem. O tabu era<br />

gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais, principalmente com relação à alimentação. Essa<br />

gente comia galinha oito dias ali, só galinha! Quem disse que<br />

comia arroz, feijão e verdura? Não! Custei a educar esse povo,<br />

essas mulheres. Ca<strong>da</strong> casa que eu chegava tinha que<br />

educar:porque era assim: peixe <strong>de</strong> couro não podia comer, e<br />

olha que o peixe <strong>da</strong> região, o surubim, é <strong>de</strong> couro, mas diziam<br />

que era “remoso”, era um tabu terrível, até que apren<strong>de</strong>ram.<br />

Mas choramingavam: lá no hospital tem que comer <strong>de</strong> tudo, a<br />

gente fica sozinha sem assistência[...]Mas minha filha lá é<br />

hospital, eu dizia, até que consegui levar to<strong>da</strong>s. Foi, foi<br />

muito difícil.<br />

E não tinha parteiro, só mulher não é, e tinha o médico,<br />

mas só no hospital tinha parteiro, quer dizer, os médicos, mas<br />

eles não eram totalmente parteiros. Mas todos eles faziam<br />

parto às vezes. No hospital não tinha muita objeção, podia ser<br />

o médico ou podia ser a gente. Fora disso só enfermeira. E<br />

também no início só enfermeira fazia parto aqui no hospital,<br />

auxiliar e aten<strong>de</strong>nte não fazia. Tinham muitas <strong>parteiras</strong><br />

curiosas.aqui na região, a gran<strong>de</strong> maioria já faleceu, nem sei<br />

se ain<strong>da</strong> tem alguma viva. Faziam muitos partos e <strong>de</strong>pois o<br />

centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> convidou to<strong>da</strong>s as <strong>parteiras</strong> e <strong>de</strong>u instrução<br />

para elas. E foi tempo, não foi pouquinho, poucos meses não,<br />

foi ano, mais <strong>de</strong> ano. Isso aconteceu com a Fun<strong>da</strong>ção SESP: e<br />

<strong>de</strong>u o material todinho que elas precisavam, medicamento, elas<br />

iam pegar curativo <strong>de</strong> umbigo, algodão, o que precisassem o<br />

SESP fornecia. Então elas tinham instrução, e uma coisa boa<br />

que o SESP fez: tinha no Serviço <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública a<br />

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