memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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aberta não é, era mais liberal, agora eu não sei porque eu já<br />
saí <strong>de</strong> lá há 20 anos. Acho que nós tínhamos mais po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cisão, éramos mais seguras do que fazíamos. A gente tinha<br />
autori<strong>da</strong><strong>de</strong>, respeito, tanto respeito do superior para o<br />
inferior no cargo, como o contrário, hierarquia. sabe o que é<br />
isso? Ninguém chamava <strong>de</strong> você não, era dona fulana! Hoje eu<br />
não sei não estou lá, mas pelo que vejo[...]As mulheres,<br />
aquelas senhoras, eram trata<strong>da</strong>s com todo carinho! Passados<br />
alguns anos eu passei a receber doações, que até hoje eu não<br />
sei <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vinham aquelas roupas. Joguinhos <strong>de</strong> recém nascido,<br />
joguinhos completos. Ganhei muito! Então eu guar<strong>da</strong>va lá no<br />
armário e quando tinha uma parturiente que não tinha roupinha<br />
para o neném para ir embora para casa <strong>da</strong>va uns joguinhos. E a<br />
gente não abandonava a mulher, ficava junto o tempo todo, não<br />
abandonava não! Para falar a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> não é Cardoso, hoje em<br />
dia está lá no pré parto sozinha e só ouve: fica quietinha,<br />
não reclama não. Tem que <strong>da</strong>r assistência. Nós dávamos<br />
assistência, sabíamos a posição <strong>da</strong> mulher, era <strong>de</strong>cúbito<br />
dorsal, ficava quietinha, olhava se tinha hemorragia, tinha<br />
que olhar. Respeitava a mulher, elas até repousavam mais<br />
enten<strong>de</strong>. Em casa, <strong>de</strong>pois do parto, ficavam oito dias <strong>de</strong> papo<br />
pro ar, com lençol cobrindo, elas gostavam disso, era o<br />
costume. Não é todo mundo que tem dom para ser enfermeira,<br />
para acariciar o paciente, tolerar o paciente. Porque tem<br />
pacientes impertinentes, às vezes até grosseiros, brutos, não<br />
é. Mas não, a pessoa tem que ter não só a técnica, tem o amor<br />
no que faz. Isso vem muito do berço, <strong>da</strong> criação: porque dá<br />
amor quem tem, quem não tem não dá. Se eu recebi amor eu dou<br />
amor se eu não recebi eu não posso <strong>da</strong>r porque não recebi. E é<br />
isso. O amor, na Enfermagem, acabou. A parte monetária é que<br />
governa, não tem mais amor, não é. Agora, a pessoa vocaciona<strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>sapareceu[...]<br />
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