13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ananeiras que continham os nenens que as <strong>parteiras</strong> recolhiam para entregá-los às mães nos<br />

dias dos nascimentos.<br />

Aos <strong>de</strong>zessete anos <strong>de</strong>cidiu mesmo que queria ser parteira tendo ido para Florianópolis<br />

on<strong>de</strong> fez o curso durante dois anos na Materni<strong>da</strong><strong>de</strong> Carlos Corrêa, à época Materni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Florianópolis. Dona Army acompanhou to<strong>da</strong> a sua formação na materni<strong>da</strong><strong>de</strong> orientando-a<br />

como fazia com as <strong>de</strong>mais alunas, e mantiveram ao longo dos anos um contato mais estreito,<br />

uma amiza<strong>de</strong> que o passar dos anos não venceu.<br />

A entrevista com Dona Deta foi bastante interessante até pela maneira como ocorreu. Eu<br />

e Dona Army saímos <strong>de</strong> carro às oito horas <strong>da</strong> manhã <strong>de</strong> domingo e <strong>de</strong>sfrutamos com prazer<br />

as aproxima<strong>da</strong>mente duas horas e meia do trajeto até Rio Fortuna. Eu não conhecia essa<br />

região <strong>de</strong> Santa Catarina e após Braço do Norte, a estra<strong>da</strong> margeando o rio <strong>de</strong> águas claras<br />

que “canta” nas pedras é muito bonita, além <strong>de</strong> ser possível perceber pelas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s rurais<br />

<strong>da</strong> região, o <strong>de</strong>senvolvimento e papel importante <strong>da</strong> suinocultura para a economia <strong>da</strong> região. E<br />

conversar com Army é sempre um gran<strong>de</strong> aprendizado, compartilhamos um “olhar” holístico<br />

para tudo que nos cerca e tudo o que fazemos.<br />

Dona Deta recebeu-nos com alegria, usando um elegante tailler azul marinho,<br />

esperando-nos com mesa posta para o café, como me acostumei <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança nas pequenas<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s do interior <strong>de</strong> Minas. E assunto já não era problema para quem como eu mal<br />

conhecera a anfitriã: ela tem o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar-nos muito à vonta<strong>de</strong>. Ela <strong>de</strong>monstra muita<br />

energia na maneira <strong>de</strong> falar com seu sotaque (para mim) bastante carregado.<br />

Fomos almoçar em um restaurante que serve comi<strong>da</strong> típica alemã e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fotos no<br />

pomar, cumprimentos e apresentações, o assunto passou a ser parto. Dona Deta não se<br />

conforma com o exagero <strong>de</strong> cesarianas programa<strong>da</strong>s que se fazem hoje, “contra a natureza”<br />

afirma ela com segurança. Diz que tudo isso é porque as pessoas <strong>de</strong> hoje já não tem mais<br />

paciência, já não vivem mais ca<strong>da</strong> coisa a seu tempo, precisam interferir em tudo. Após o<br />

almoço, já em sua residência, essa mulher que tem aquele jeito <strong>de</strong> quem não tem medo <strong>de</strong><br />

resolver na<strong>da</strong>, e ao mesmo tempo possui a paciência dos seres humanos sábios, conce<strong>de</strong>u a<br />

entrevista que com certeza vai contribuir para enriquecer a história <strong>da</strong>s mulheres que se<br />

<strong>de</strong>dicaram à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo geral, e ao ato <strong>de</strong> partejar <strong>de</strong> modo específico, no Brasil na última<br />

meta<strong>de</strong> do século XX.<br />

89

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!