memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
miú<strong>da</strong>s e ele lá na frente aten<strong>de</strong>ndo urgência. Pensa bem, só<br />
porque ele falou comigo quando chegou que só ele ia fazer<br />
parto, eu não ia fazer aquele parto? Eu seria <strong>de</strong>sumana, se<br />
<strong>de</strong>ixasse a mulher lá joga<strong>da</strong>. Eu falei: Vamos tomar um<br />
banhozinho rapidinho, e vamos <strong>de</strong>itar aí. Quando eu olhei<br />
estava com a dilatação total. Aí eu fiz o parto, coloquei o<br />
neném lá, apertei a campainha com o cotovelo porque estava <strong>de</strong><br />
luvas, e ele veio: Uai, nasceu? Nasceu, você falou que estava<br />
com 2 <strong>de</strong>dos mas[...]Agora o Sr. faz uma revisão e ele fez a<br />
revisão. Quer dizer ele não estava agüentando, eu acho que é o<br />
próprio médico que tem que fazer o parto, tem que conhecer <strong>de</strong><br />
obstetrícia, ele tem que estu<strong>da</strong>r. Pena que eles começam a<br />
fazer muitas cesarianas, o número acho que dobrou, também<br />
ganhava muito mais. É isso que move a saú<strong>de</strong> hoje, ganhar mais<br />
e mais trabalhando menos não sei. Trabalhar em muitos lugares,<br />
muitas coisas ao mesmo tempo.<br />
MARIA DE OLIVEIRA PINHEIRO<br />
Nos idos <strong>de</strong> mil novecentos e <strong>de</strong>zesseis (1916), no dia trinta <strong>de</strong> julho, nasceu Maria <strong>de</strong><br />
Oliveira na pequena ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mineira <strong>de</strong> Dores <strong>de</strong> In<strong>da</strong>iá. Muito cedo viu sua infância<br />
transformar-se em muita dor: aos seis anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> tendo ficado órfã <strong>de</strong> pai foi com a mãe e<br />
os outros irmãos para Patricínio/MG. A mãe que tinha então cinco filhos, impossibilita<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
criar todos, entregou Maria Cardoso aos cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> uma tia e o penúltimo filho entregou<br />
para a avó <strong>da</strong>s crianças. Ela permaneceu com essa tia dos seis aos onze anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, período<br />
<strong>de</strong> muita tristeza e dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Como ela mesma disse durante a entrevista “Tudo que era serviço difícil eu cui<strong>da</strong>va [...]<br />
Tudo que era serviço pesado, serviço ruim era para eu fazer.[...] magrinha, feinha, era uma<br />
gata borralheira. Acho que ninguém nesse mundo apanhou tanto quanto eu apanhei. Apanhei<br />
<strong>de</strong>mais! Tudo que eu fazia certo ou errado, “coro”! Durante muito tempo teve o corpo<br />
marcado, pernas e as costas, porque era surra<strong>da</strong> com uma vara chama<strong>da</strong> unha <strong>de</strong> boi, que<br />
conforme o dito popular <strong>da</strong> época: “inverga a cabra mas não quebra”.<br />
Durante esse período em que esteve com a tia estu<strong>da</strong>va em um grupo escolar muito<br />
longe <strong>da</strong> chácara em que morava e quase todos os dias, porque era responsável por todos os<br />
afazeres <strong>da</strong> casa e pela distância, quando chegava já encontrava o portão <strong>da</strong> escola fechado,<br />
sendo proibi<strong>da</strong> <strong>de</strong> entrar. A mãe, que então catava café nas gran<strong>de</strong>s fazen<strong>da</strong>s <strong>da</strong> região com os<br />
três filhos, construiu um barracão na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Patrocínio, levando Maria <strong>de</strong> volta para casa.<br />
119