memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ENTÃO OBSTETRÍCIA É UMA CAIXINHA DE SEGREDO, NINGUÉM SABE<br />
TUDO NÃO. SE ALGUÉM FALAR COM VOCÊ QUE É A MELHOR PARTEIRA EU<br />
DIGO QUE É MENTIRA, PORQUE OBSTETRÍCIA CADA DIA QUE VOCÊ FAZ<br />
VOCÊ VAI APRENDENDO MAIS. É UMA ESCOLINHA, VOCÊ ENTENDEU, É<br />
UMA ESCOLINHA!<br />
A coisa que eu mais <strong>de</strong>sejava era fazer o curso <strong>de</strong> auxiliar<br />
<strong>de</strong> enfermagem, tinha muita dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> financeira mas com<br />
muita batalha cheguei a fazer esse curso lá no hospital <strong>de</strong><br />
Cataguases, não sei se você já ouviu falar, é perto <strong>da</strong> zona <strong>da</strong><br />
mata, perto <strong>de</strong> Muriaé e <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora. Lá eu fiz três anos<br />
<strong>de</strong> auxiliar, <strong>de</strong> mil novecentos e setenta e um a mil novecentos<br />
e setenta e três. Lá eu aprendi muitas coisas boas com<br />
certeza. Fazíamos tudo, apren<strong>de</strong>mos tudo, inclusive suturas,<br />
partos pélvico, cefálico, transverso, <strong>de</strong> qualquer forma.<br />
Inclusive auxiliávamos cirurgias, instrumentávamos,<br />
circulávamos, então aprendi tudo isso. Voltei para Pirapora,<br />
fiquei três anos aguar<strong>da</strong>ndo uma vaga porque era muito difícil<br />
admitir um auxiliar <strong>de</strong> enfermagem nesse hospital que era um<br />
dos poucos <strong>da</strong> redon<strong>de</strong>za nessa época. Fui admiti<strong>da</strong> em mil<br />
novecentos e setenta e seis no atual Hospital Municipal,<br />
antigo Hospital do SESP. Lá nós fazíamos essa função chama<strong>da</strong><br />
função <strong>de</strong>lega<strong>da</strong>, tinha mais aten<strong>de</strong>nte que auxiliar <strong>de</strong><br />
enfermagem então foi a maior polêmica, quando eu vim foi<br />
aquela batalha.<br />
O médico ficava <strong>de</strong> plantão em casa, e muitas vezes nós<br />
ficávamos com aqueles médicos que nunca fizeram parto então a<br />
gente que veio <strong>de</strong> fora, que apren<strong>de</strong>u, acabava fazendo.<br />
praticamente todos os partos. O plantão <strong>de</strong>les era em casa, a<br />
gente examinava a paciente, dizia quanto estava <strong>de</strong> dilatação,<br />
a apresentação, se era cefálica, se era podálica, se os<br />
batimentos estavam normais, entre 120 e 160 bpm se estava<br />
baixando, aquela polemica to<strong>da</strong>. Não tinha <strong>de</strong>tector, hoje nós<br />
já temos o <strong>de</strong>tector que a gente olha melhor.<br />
E fazíamos os partos que viessem. Naquele tempo era<br />
difícil fazer ultra-sonografia a gente já calculava, olhava se<br />
tinha per<strong>da</strong> <strong>de</strong> líquido aminiótico, se os batimentos estavam<br />
firmes, se a dilatação estava total, e se tivesse que induzir<br />
o parto, a gente comunicava ao médico por telefone, e ele<br />
então man<strong>da</strong>va colocar tantas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ocitocina. Olhava a<br />
evolução e quando a gente via que não ia nascer voltava a<br />
falar com ele: oh, Dr. não vai nascer. Muitas vezes nascia sem<br />
o médico estar, a gente tinha que fazer aquele parto. Então eu<br />
transcrevia e ele assumia, assinava embaixo. Então durante<br />
anos trabalhamos assim até que teve um problema e um dos<br />
aten<strong>de</strong>ntes ficou meio bronqueado com os médicos. Denunciou,<br />
chamou o COREN que proibiu todo mundo <strong>de</strong> fazer parto. Durante<br />
23 anos aqui nesse hospital <strong>de</strong> Pirapora. eu fiz partos mesmo,<br />
113