memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Deixei <strong>de</strong> fazer partos em mil novecentos e noventa e um<br />
quando me aposentei. Mas ain<strong>da</strong> continuo acompanhando<br />
nascimentos na linha evolutiva. Não nesse plano físico, mas na<br />
minha maneira <strong>de</strong> ver acompanho mas não interfiro o nascimento<br />
<strong>de</strong> pessoas para outros planos, que eu acho tão importante.<br />
Porque na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> gente se processa quase como uma<br />
sala <strong>de</strong> parto permanente: nascimento, nascimentos[...]<br />
Vou falar um pouco do que entendo do caminho <strong>da</strong> mulher na<br />
cultura que é conhecido hoje como o “olhar feminino”. O homem<br />
ia para a caça, ia para o serviço, ia para roça. importância,<br />
ao longo do tempo, <strong>da</strong> função <strong>de</strong> mãe. Eu sempre gostei muito <strong>de</strong><br />
repescar as coisas, resgatar e dou o exemplo <strong>de</strong> um idioma, o<br />
sânscrito um idioma tão antigo, ao longo do tempo ele foi<br />
levar uma palavrinha para tantos idiomas, a palavra mãe do<br />
sânscrito, ma. Então tu vais ver, mutter, alemão começa com m,<br />
mother do inglês, madre espanhol, e por aí afora, mère do<br />
francês. Então a coisa vem <strong>de</strong> longe. Por isso eu acho que o<br />
teu trabalho também é muito, muito original e sobretudo<br />
valioso, em querer repescar tudo isso, to<strong>da</strong> essa história[...]<br />
Porque isso é uma longa história: a mulher mãe, a mulher<br />
parteira, a mulher está presente em tudo na vi<strong>da</strong>! A Terra, a<br />
Mãe, a Virgem Maria, Afrodite, Artemis, Diana e por aí está<br />
indo. A magia, tem a força do céu, <strong>da</strong> luz do sol, do fogo, do<br />
brilho <strong>da</strong> lua, a rapi<strong>de</strong>z do vento, a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> do mar, a<br />
estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> terra, a firmeza, a rocha, porque é a mãe, não<br />
é, sabe lá o que é isso? Porque se o homem, se o homem como<br />
tal está mais <strong>de</strong>fasado, a mulher ela tem uma marca, vamos<br />
dizer única, porque tudo iniciou com a mulher, com a mãe.<br />
Então não tem porque ela não ser mais aceita nesses trabalhos,<br />
tão sérios, como é o nascimento.<br />
Eu vou contar uma historia, a minha historinha: Um casal<br />
vivia muito bem, eram bem ajustados financeiramente, só que<br />
ele um dia disse pra mulher: olha mulher, eu vou ter que sair<br />
<strong>de</strong> casa, eu vou em busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ele não estava contente,<br />
ele não era realizado porque ele queria saber o que era<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. E ele combinou com ela <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r o que tinha, e<br />
passar o dinheiro pra ela, ou passar tudo no nome <strong>de</strong>la. Ela<br />
aceitou plenamente isso, como não, se ela ficaria com as<br />
coisas que estava no nome do casal. E ele saiu por esse mundo<br />
afora em busca <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ele andou por vales, montanhas,<br />
lugares alagados, ele percorreu semanas e meses atrás <strong>de</strong>ssa<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Já cansado, ele olhou para um morro muito alto e<br />
resolveu escalar esse morro. Mas será que lá encontra-se a<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>? Qual não foi a sua surpresa que ao chegar lá ele<br />
encontra-se numa gruta com uma senhora, uma velha, com apenas<br />
um <strong>de</strong>nte, a pele enruga<strong>da</strong> parecia pergaminho, cabelo longo,<br />
oleoso, uma figura bem estranha. Mas ele ficou impressionado<br />
por aquela voz suave, doce, meiga, com que essa mulher falava,<br />
não é. E chegou à conclusão que essa mulher naturalmente era,<br />
era a portadora <strong>de</strong>ssa tal <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então perguntou pra ela<br />
se podia ficar uns dias ali, pra apren<strong>de</strong>r as coisas né. Ficou<br />
87