memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
as enfermeiras ⊗ já competentes. E também quando foi acabando<br />
com o trabalho <strong>da</strong> parteira veio o resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> medicina.<br />
Começou a residência, aí já eram médicos formados, eles<br />
assumiram bastante na sala <strong>de</strong> parto, mas aquela coisa assim<br />
quando precisava: oh! o médico está em reunião não po<strong>de</strong><br />
aten<strong>de</strong>r, o médico foi almoçar, foi fazer lanche. Mas a<br />
parteira ficava ali, se chegasse uma emergência a parteira<br />
acudia e chamava o médico. Mas às vezes até era difícil, o<br />
médico sempre tinha outra coisa para fazer. A parteira faz<br />
falta mesmo porque é uma <strong>de</strong>dicação muito gran<strong>de</strong>, a não ser que<br />
as enfermeiras agora, não sei como é que está agora, a não ser<br />
que as enfermeiras agora estejam assumindo mesmo. Porque<br />
naquele tempo com a enfermeira era muito parecido com o que<br />
acontecia com os médicos: está em reunião, a enfermeira está<br />
<strong>de</strong> folga hoje. Mas a parteira tinha que estar ali: era natal,<br />
festa, fosse o que fosse, só podia sair <strong>da</strong> materni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong><br />
sala <strong>de</strong> parto quando chegava outra parteira, porque se chega<br />
uma emergência, é coisa rápi<strong>da</strong>, então abandonar a sala por<br />
<strong>de</strong>z, cinco minutos não dá.<br />
O relacionamento nosso com os médicos era maravilha,<br />
maravilha! Os médicos confiavam muito nas <strong>parteiras</strong>! Ligavam:<br />
Eunice, estou man<strong>da</strong>ndo uma paciente minha: tu examina e <strong>da</strong>qui<br />
há pouco conforme for, tu me diz o resultado. Muitas vezes era<br />
até paciente particular, pagavam à materni<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao médico. A<br />
gente controlava a paciente porque eles diziam: controla essa<br />
paciente até na hora <strong>de</strong> ganhar. Essas ficavam num quarto <strong>de</strong><br />
primeira classe. Porque tinha a primeira classe, os quartos e<br />
apartamentos, e segun<strong>da</strong> classe que era a enfermaria. E a gente<br />
tinha que ir lá na primeira classe ver e acompanhar porque o<br />
posto <strong>de</strong> enfermagem chamava a parteira. Às vezes a paciente ou<br />
a família mesmo que estava no quarto ou no apartamento já<br />
ligavam direto para a sala <strong>de</strong> parto chamando a parteira que o<br />
médico indicou: a dor estava apurando, rompeu a bolsa, está<br />
sangrando, isso e aquilo, então a parteira ia lá. Se estava<br />
próximo <strong>de</strong> ganhar o neném a gente comunicava com o médico.<br />
Mesmo paciente particular a gente não recebia por esse<br />
trabalho. Não, só a parte <strong>da</strong> materni<strong>da</strong><strong>de</strong> mesmo. Os médicos às<br />
vezes no final do mês <strong>da</strong>vam uma contribuição, um presente, uma<br />
contribuiçãozinha assim, coisa pouca, não era fixo, não era<br />
na<strong>da</strong>. A gente não podia achar ruim porque o importante era o<br />
emprego que a gente tinha que manter e esperava só o aumento<br />
<strong>da</strong> materni<strong>da</strong><strong>de</strong> mesmo. Mas isso aí era errado! Eu trabalhava<br />
mais a noite, então os médicos às vezes ficavam em casa<br />
dormindo e eu na materni<strong>da</strong><strong>de</strong> acor<strong>da</strong><strong>da</strong> a noite to<strong>da</strong>. Acho que<br />
aon<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> tem esse sistema é na Materni<strong>da</strong><strong>de</strong> Carlos Corrêa.<br />
Ali também já tem enfermeira mas acho que ain<strong>da</strong> tem esse<br />
sistema <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong> aten<strong>de</strong>rem e o médico dá uma<br />
porcentagenzinha para elas. É que a materni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Carlos<br />
Corrêa não é uma Materni<strong>da</strong><strong>de</strong> Universitária, Materni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
⊗ Estas enfermeiras referi<strong>da</strong>s já são as enfermeiras com especialização em Enfermagem Obstétrica<br />
70