memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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existia banco <strong>de</strong> sangue aqui em Florianópolis. Chama-se Dr.<br />
Danilo, ele ain<strong>da</strong> é vivo. Não sei se ele é mineiro, ele é do<br />
norte, não é <strong>da</strong>qui. Daí então resolveram fazer um banco <strong>de</strong><br />
sangue na materni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como eu era muito vincula<strong>da</strong> às<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> casa eu comecei a me interessar pelo trabalho<br />
do banco <strong>de</strong> sangue, que estava muito aliado ao meu trabalho:<br />
<strong>de</strong> repente chegava uma paciente com um aborto, com hemorragia,<br />
ou mesmo um <strong>de</strong>scolamento prematuro <strong>de</strong> placenta ou placenta<br />
prévia, então eu tinha que localizar o médico, fazer a<br />
classificação do sangue, e eu comecei a me envolver com isso.<br />
E acabei <strong>de</strong>pois tomando conta do banco <strong>de</strong> sangue, aju<strong>da</strong>ndo nas<br />
necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Muitas vezes a gente telefonava para o médico:<br />
aí doutor, a paciente chegou assim, em tais condições. Ele<br />
dizia então: A Sra. já vá provi<strong>de</strong>nciando o sangue, e quando o<br />
médico chegava para intervir a paciente já estava até tomando<br />
sangue. Isso naquela época, hoje eu já não fazia isso. Até<br />
pelas minhas condições físicas, já não <strong>da</strong>va para aten<strong>de</strong>r tanta<br />
coisa.<br />
Mas a vi<strong>da</strong> é assim, nós nunca po<strong>de</strong>mos esperar do Homem, do<br />
Ser Humano, aquela gratificação, aquela recompensa, ou<br />
reconhecimento, é uma coisa muito íntima, muito pessoal! Muito<br />
meu, muito seu, pra botar no bolso não cabe, tem que botar no<br />
coração! Mas é isso, enfim esta foi a minha profissão durante<br />
33 anos, e alguns meses.<br />
Eu não tenho essa experiência <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong> que trabalhavam<br />
em domicílio, porque eu nunca trabalhei em domicílio, sempre<br />
trabalhei em materni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas eu acho que em se tratando <strong>de</strong>ssa<br />
humanização, na<strong>da</strong> é mais importante do que <strong>de</strong>ixar a própria<br />
fisiologia com a natureza agir. Deve-se pensar bem sobre o<br />
número exagerado <strong>de</strong> cesarianas eletivas. Não interferir por<br />
muito pouca coisa porque como é que as nossas índias ganhavam<br />
seus filhos? Mas também não po<strong>de</strong>mos pensar só em termos <strong>de</strong><br />
índios, índias. Eu acho que tem que haver um meio termo nisso<br />
aí, porque a ciência po<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r em muita coisa, mas não<br />
extrapolar. Não tem porque, hoje, não fazer uma episiotomia<br />
numa primara, ficando uma mulher sujeita a ter prolapso<br />
uterino, um prolapso até <strong>de</strong> reto, e por aí afora. Então são<br />
essas coisas assim, a ciência po<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r em tanta coisa no<br />
acompanhamento <strong>da</strong> gestação, do puerpério, por aí afora. A<br />
coisa é complexa! Mas o caminho do meio ain<strong>da</strong> é a melhor<br />
maneira.<br />
Pois é a mesma coisa em relação ao local <strong>de</strong> se fazer os<br />
partos pois tudo tem os prós e os contras. Partos nos<br />
hospitais só mesmo nos interiores porque hoje os partos já são<br />
em materni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, pois em se tratando <strong>de</strong> hospitais já tem o<br />
problema <strong>da</strong> infecção hospitalar. E <strong>de</strong>pois, nos hospitais fica<br />
muito mecânico, não é. Por isso eu acho que esse caminho do<br />
meio é o melhor porque eu como profissional posso te dizer que<br />
a “mistura” <strong>de</strong> ciência e tradição é o que eu concordo! Imagina<br />
como é feito, em rítmo acelerado: Olha a dilatação tá<br />
completa, leva para a sala <strong>de</strong> parto, ganhou, já bota outra lá!<br />
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