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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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Dr., o Sr. é novo na i<strong>da</strong><strong>de</strong> mas eu sou velha na estra<strong>da</strong>. Quando<br />

o Sr. ficou médico eu já trabalhava. Quando o Sr. começou a<br />

trabalhar eu já trabalhava. O que o Sr. não tem <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> Dr.,<br />

eu já tenho <strong>de</strong> prática. Mais vale a prática que a gramática, o<br />

Sr. sabe disso!<br />

EUNICE NICOLINA DA SILVA<br />

Eunice é natural <strong>da</strong> Ilha <strong>de</strong> Santa Catarina, como ela mesma disse brincando,<br />

“manezinha <strong>da</strong> ilha”. Nasceu no dia vinte <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> mil novecentos e trinta e seis em<br />

Florianópolis, no Bairro do Pantanal, hoje próximo à Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina,<br />

que à época do seu nascimento não existia.<br />

Filha <strong>de</strong> um comerciante e <strong>de</strong> uma dona <strong>de</strong> casa, D. Eunice teve uma infância simples,<br />

compartilha<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma família gran<strong>de</strong>, pois sua mãe teve <strong>de</strong>z filhos. Ela diz se lembrar<br />

<strong>de</strong> sua infância por um fato <strong>de</strong> certa maneira marcante: sua mãe teve os <strong>de</strong>z filhos em casa, na<br />

sua cama, sempre atendi<strong>da</strong> por <strong>parteiras</strong>, aquelas “apara<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> crianças” que atendiam do<br />

sul ao norte <strong>da</strong> ilha.<br />

Os nascimentos representavam sempre uma festa: permea<strong>da</strong> pela tensão normal que<br />

precedia o momento do nascimento, transformava-se em motivo <strong>de</strong> risos e comemoração ao<br />

som tímido do primeiro choro do rebento. Alegria geral entre as crianças, a vizinhança e o pai<br />

que ia soltar fogos <strong>de</strong> artifício no quintal. Conta-se que as <strong>parteiras</strong>. compartilhavam esses<br />

momentos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> horas a fio <strong>de</strong> muita tensão.<br />

Fez o primeiro grau no Colégio Coração <strong>de</strong> Jesus, teve seu primeiro emprego em uma<br />

farmácia aos <strong>de</strong>zessete anos, e aos <strong>de</strong>zenove anos casou-se. Teve um filho e uma filha e já<br />

tem dois netos e uma neta.<br />

Como ela mesma diz “Hoje sou realiza<strong>da</strong> na minha vocação, tive meus filhos <strong>de</strong> parto<br />

normal, aju<strong>de</strong>i no nascimento <strong>de</strong> meus netos e tenho muito orgulho <strong>de</strong> ter aju<strong>da</strong>do muitas<br />

mães a colocarem seus filhinhos no mundo”.<br />

Com seu jeito calmo <strong>de</strong> olhar e fala mansa, Eunice me recebeu em sua casa um pouco<br />

reticente pois havíamos conversado apenas uma vez por telefone para marcar a entrevista.<br />

Expliquei-lhe com clareza do que se tratava a pesquisa o que a <strong>de</strong>ixou bem mais à vonta<strong>de</strong> e<br />

muito participativa, afinal era um assunto que a interessava sobremaneira.<br />

Depois foi se soltando, <strong>de</strong>monstrando um prazer enorme <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r falar do seu trabalho<br />

<strong>de</strong> muitos anos na Materni<strong>da</strong><strong>de</strong> Carmela Dutra: Em vários momentos calou-se como num<br />

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