memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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<strong>de</strong>clarações informativas são apresenta<strong>da</strong>s em um texto introdutório seguido <strong>de</strong>pois pela<br />
entrevista na íntegra. O presente estudo, no texto introdutivo eu relato no estilo indireto to<strong>da</strong> a<br />
conjuntura em que se <strong>de</strong>u a entrevista, as minhas impressões enquanto pesquisadora, além do<br />
que eu chamo <strong>de</strong> “uma pequena biografia” <strong>da</strong> colaboradora. As impressões sobre as condições<br />
<strong>da</strong> entrevista são anotações em um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> “notas <strong>de</strong> campo” feitas tão logo terminasse a<br />
entrevista, apresentando a seguir apresento na primeira pessoa as narrativas <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong><br />
sobre suas experiências ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> com o ato <strong>de</strong> partejar, mantendo ao máximo possível<br />
as informações conforme expressa<strong>da</strong>s por elas.<br />
Acho importante colocar que estas questões e mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> posicionamento foram<br />
ocorrendo na medi<strong>da</strong> em que as entrevistas iam sendo realiza<strong>da</strong>s, na medi<strong>da</strong> em que foi<br />
clareando mais e mais a visão <strong>da</strong> história oral não como técnica auxiliar <strong>de</strong> pesquisa, e sim<br />
como metodologia. Esta <strong>de</strong>finição é fun<strong>da</strong>mental para o <strong>de</strong>lineamento dos caminhos que<br />
foram trilhados até o encerramento <strong>da</strong> pesquisa, no caso específico <strong>de</strong>sse trabalho, até a<br />
escrita <strong>da</strong> dissertação. Corrobora com esta toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> posição as colocações <strong>de</strong> Neves et al :<br />
Este tipo <strong>de</strong> postura pren<strong>de</strong>-se ao fato <strong>da</strong> entrevista em história oral não se limitar à<br />
possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comprovar ou <strong>de</strong>smentir idéias ou acontecimentos estabelecidos.<br />
Trata-se, sobretudo, do registro <strong>de</strong> como uma pessoa analisa sua experiência, o que<br />
seleciona, como or<strong>de</strong>na, as ênfases, as pausas e os esquecimentos. Enfim, a<br />
organização <strong>da</strong> narrativa contém elementos que expressam informações que vão<br />
além <strong>da</strong> palavra fala<strong>da</strong> e que se constituirão também em elementos <strong>de</strong> análise por<br />
parte do oralista. Nesse sentido, é importante que o entrevistador faça também seu<br />
próprio relato sobre o contexto em que se <strong>de</strong>u a entrevista. Esse procedimento é <strong>de</strong><br />
fun<strong>da</strong>mental importância para que o futuro leitor tenha uma noção próxima do que<br />
ocorreu, mesmo que a entrevista passe pela intervenção do oralista. (NEVES et. al.,<br />
2001, p.4)<br />
Outra razão <strong>de</strong>sta opção insere-se no fato <strong>de</strong> que no <strong>de</strong>correr <strong>da</strong>s entrevistas foi ficando<br />
claro que às vezes fica muito difícil fazer um corte entre história oral temática e história oral<br />
<strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, o que <strong>de</strong> certa maneira eu pressentira quando fazia leituras e revisão bibliográfica<br />
sobre história oral. Assim, a minha proposta inicial pela história oral temática, no caso em<br />
busca <strong>da</strong>s <strong>memórias</strong> <strong>de</strong> mulheres que exerceram ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s como <strong>parteiras</strong>, foi se mesclando<br />
com as histórias pessoais, seus caminhos, suas escolhas. A temática é muito importante no<br />
contexto atual <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> no Brasil, mas até por questões éticas, é impossível não <strong>da</strong>r “voz” a<br />
essas mulheres.<br />
O segundo dilema estava muito ligado aos meus questionamentos acerca <strong>da</strong>s fontes<br />
orais enquanto evidência ,pois, como afirma Thompson (1998, p.138): “se as fontes orais<br />
po<strong>de</strong>m <strong>de</strong> fato transmitir informação fi<strong>de</strong>digna tratá-las simplesmente como um documento a<br />
mais é ignorar o valor extraordinário que possuem como testemunho subjetivo, falado”. Esse<br />
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