memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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eu não sei o que passa pela cabeça <strong>de</strong>le, que ele acha que <strong>de</strong>ve<br />
man<strong>da</strong>r tudo para o hospital e que lugar certo <strong>de</strong> ter o filho,<br />
<strong>de</strong> ganhar o filho.é só no hospital. Eu acho que sendo um parto<br />
normal, em casa ganha, no hospital ganha, em qualquer lugar<br />
ganha, e não precisa ser só médico não. E <strong>de</strong>pois acho que tem<br />
uma coisa que atrapalha muito nos hospitais que é muita norma<br />
rígi<strong>da</strong>, ninguém compreen<strong>de</strong> ou tenta ser mais aberto e isso é<br />
muito <strong>de</strong>sumano nos hospitais. Eu francamente não sei. porque<br />
foi acabando o trabalho <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong>, porque aju<strong>da</strong> muito as<br />
mulheres e ficou coisa proibi<strong>da</strong>. Porque aju<strong>da</strong> bastante, aju<strong>da</strong><br />
bastante.<br />
Aqui quem faz pré natal é um médico <strong>de</strong> Montes Claros.<br />
Trabalha aqui mas mora em Montes Claros, vem aten<strong>de</strong> aqui e<br />
volta para lá. E aten<strong>de</strong> tudo não é só atendimento às mulheres,<br />
revezam o atendimento noturno revezam entre eles. E contanto<br />
que dê a cobertura para a semana inteira.está tudo resolvido.<br />
Tem uma médica ginecologista, que colhe material <strong>de</strong> colo <strong>de</strong><br />
útero e faz pré-natal também, é uma ginecologista, ela só<br />
aten<strong>de</strong> às terças feiras. São muitas.mulheres para fazer o pré<br />
natal, às vezes fica difícil. Depois na hora <strong>de</strong> <strong>da</strong>r à luz vão<br />
para Montes Claros ou Pirapora, então dá para imaginar a<br />
dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>. E continuamos a não fazer partos aqui, a sala do<br />
hospital muito pequenininha, e a secretária <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não tem<br />
na<strong>da</strong> na cabeça porque a sala é uma porcaria. Aqui em Jequitaí<br />
tem uns 10 mil habitantes e o hospital é pequeno, tem seis,<br />
sete leitos, mais uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> mista. Imagina o que é viajar<br />
mais ou menos 100 Km até Montes Claros para fazer o parto. E<br />
tem que arranjar carro por aí porque ambulância aqui não tem,<br />
a secretária <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>ncia carro. A mu<strong>da</strong>nça é muito<br />
gran<strong>de</strong> porque até o ano passado elas ficavam aqui e eu fazia o<br />
parto, só se a mulher tivesse alguma complicação eu<br />
man<strong>da</strong>va.para o hospital como sempre fiz. Aqui está funcionando<br />
equipe do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>da</strong> Família, acho que tem pelo<br />
menos uma equipe <strong>de</strong> PSF mas não faz pré natal.<br />
Eu mesma acho que nunca tive assim um contato com médico<br />
obstetra, nunca teve um aqui. Sempre trabalhei sozinha<br />
praticamente e fazendo encaminhamentos nas coisas que<br />
precisavam ser encaminha<strong>da</strong>s. Teve um médico aqui que eu<br />
trabalhei junto com ele muito tempo, Dr. Santiago. O que ele<br />
sabia em termos <strong>de</strong> medicamento, <strong>de</strong> parto e <strong>de</strong> tudo ele passava<br />
para mim. Ele era, aliás é muito bom. Ele trabalha hoje em<br />
Claro <strong>da</strong>s Poções, está em vista <strong>de</strong> voltar para cá <strong>de</strong> novo. Ele<br />
me ensinou muito, ele passou muita coisa para mim, muita coisa<br />
mesmo. Nessa época a gente podia fazer medicamento porque não<br />
tinha o tabu que tem hoje. Hoje você não po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r medicamento<br />
nenhum, não po<strong>de</strong>. Mas nessa época podia, aqui não tinha<br />
médico, não tinha quem resolvesse na<strong>da</strong>, quem fizesse na<strong>da</strong>.<br />
Unicamente eu! Só tinha eu que fazia as coisas. Porque não era<br />
só parto não, eu resolvia tudo na uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, tudo, tudo! Pois no<br />
caso <strong>de</strong> <strong>da</strong>r uma infecção, um tétano algo assim, fazia logo uma<br />
benzetacil, ou um anatoxe tetânico, que às vezes resolvia<br />
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