memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
To<strong>da</strong>s as moças que faziam o curso moravam na materni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Elas é que atendiam, que faziam a parte <strong>da</strong> enfermagem porque a<br />
casa não contratava. E não recebiam por isso ao contrário<br />
pagavam. Eu tenho o recibo ain<strong>da</strong>, do pagamento que fiz quando<br />
cheguei lá. Pagamento adiantado, naquela época eram dois<br />
contos <strong>de</strong> réis. Não era muita coisa porque a gente tinha<br />
alimentação mas o trabalho mesmo era <strong>de</strong>ssas alunas. Já<br />
pensasse que economia uma casa fez durante anos e anos? Nós<br />
dávamos plantão e atendia-se a qualquer hora <strong>da</strong> noite ou do<br />
dia. Eu acho que uma coisa é muito importante na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />
gente, quem trabalha na enfermagem sabe perfeitamente: quando<br />
tu coloca amor naquilo que tu faz a coisa é fantástica. Em<br />
tudo! Não é só na Enfermagem, é no trabalho, aon<strong>de</strong> tu vais<br />
po<strong>de</strong> botar esse temperozinho que a coisa funciona! Ali era<br />
aquela rotina, não era indicação, chegou e eu atendia, quem<br />
estava <strong>de</strong> serviço atendia.<br />
Não havia parteiros, só médicos obstetras. Em uma época bem<br />
no começo veio um padre. Não para fazer o curso, ele veio<br />
pegar uma prática. Esse padre então fez uma esta<strong>da</strong> ali na<br />
materni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uns dois meses. Porque ele atendia as pacientes<br />
que estavam mal, <strong>da</strong>va a assistência espiritual. E antes <strong>de</strong> ser<br />
padre ele fez alguns anos <strong>de</strong> medicina, ele era italiano, já<br />
faleceu. Então ele fez um estágio ali, mas não fez o curso<br />
todo, o curso era para moças.<br />
E essas moças trabalharam, porque elas iam para esses<br />
interiores e se <strong>de</strong>dicavam mesmo. Uma <strong>de</strong>las chegou a trabalhar<br />
na Materni<strong>da</strong><strong>de</strong> Matarazzo, que hoje se não me engano é a<br />
Humberto Primus em São Paulo, trabalhou muitos anos lá, hoje<br />
está aposenta<strong>da</strong>. E outras trabalharam por aí, Lages, enfim,<br />
por to<strong>da</strong> Santa Catarina. Eram muito úteis, porque elas levavam<br />
uma experiência, imagina dois anos trabalhando só com parto,<br />
elas tinham muita prática! Havia muito poucas <strong>parteiras</strong>, e<br />
quando forma<strong>da</strong>s normalmente elas trabalhavam nos hospitais que<br />
estavam começando. Mas a maioria já faleceu, já não tem mais<br />
ninguém trabalhando. Eram meninas que vinham do interior, eram<br />
moças muito jovens. Muitas vezes vinham por indicação do padre<br />
<strong>da</strong> paróquia, que sabia <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> e então vinham fazer<br />
esse curso aí.<br />
Bom, me lembro que na época havia um livrinho, só que ele é<br />
difícil <strong>de</strong> se encontrar hoje em dia, muito interessante. Foi<br />
escrito por uma parteira que trabalhou quarenta anos na<br />
Alemanha tanto que o original do livro é em alemão e o título,<br />
traduzido em português ficou “Entre leito e Berço”. Então ela<br />
conta essa história to<strong>da</strong>: muitas vezes uma criança nasce e o<br />
sexo não é aceito pelo pai, eles são machistas, muitas vezes<br />
não gostam que nasça meninas e por aí afora. Hoje talvez só<br />
encontre esse livro em casas <strong>de</strong> sebo. Essa parteira nunca<br />
esteve no Brasil, mas como se sabe, muitas <strong>parteiras</strong> <strong>da</strong><br />
Alemanha vieram para as colônias no sul do Brasil, então a<br />
influência.<br />
80