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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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sentia, já via só em botar a mão, assim, a gente já via mais<br />

ou menos o quê ia <strong>da</strong>r, se ia <strong>da</strong>r um parto normal. E olha que<br />

quem fazia mais partos eram as <strong>parteiras</strong> mesmo. No começo, até<br />

o ano <strong>de</strong> mil novecentos e oitenta e cinco por aí, não tinha<br />

médico resi<strong>de</strong>nte, então era só o médico <strong>de</strong> plantão mesmo, um<br />

médico. Então às vezes estava no centro cirúrgico operando,<br />

fazendo cesárea, outra cirurgia, a sala <strong>de</strong> parto ficava só<br />

pelo controle <strong>da</strong> parteira. E quando havia emergência a<br />

parteira mesmo chamava, ou já botava a paciente na maca e<br />

levava para o centro cirúrgico. A gente é que resolvia. A<br />

parteira é que resolvia. Sempre tinham duas <strong>parteiras</strong> <strong>de</strong><br />

plantão. A gente fazia plantão <strong>de</strong> 12 horas durante o dia e <strong>da</strong>s<br />

7 <strong>da</strong> noite até as 7 <strong>da</strong> manhã mais duas <strong>parteiras</strong>. No outro dia<br />

a mesma coisa. E nunca se podia <strong>de</strong>ixar a sala <strong>de</strong> parto<br />

abandona<strong>da</strong>, sem parteira. Se uma ia fazer refeição tinha que<br />

estar a outra, não podia <strong>de</strong> jeito nenhum arre<strong>da</strong>r pé <strong>da</strong>li. Nós<br />

éramos chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> parteira, e subordina<strong>da</strong>s à enfermagem.<br />

Muitas mulheres queriam o médico, achavam que tinha mais<br />

segurança, tem mais capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, estudou tudo e[...]é médico!<br />

Mas muitas tinham aquele carinho com a parteira, e quando<br />

chegavam já queriam a tal parteira. Tinha aquela confiança<br />

porque era uma parteira que já tinha feito o primeiro parto,<br />

ou porque já fez o meu então faz o <strong>da</strong> minha filha, um carinho<br />

que tinha com a gente. Depen<strong>de</strong> também <strong>da</strong> parteira porque tinha<br />

parteira que já não era assim tão agradável para a paciente.<br />

Mas a gente tinha aquele jeitinho <strong>de</strong> tratar. Eu mesmo, quando<br />

a paciente chegava, já procurava tranqüilizar a paciente, <strong>da</strong>r<br />

apoio, conversar, falar <strong>de</strong> Deus, que ela tem que confiar em<br />

Deus. Então na sala <strong>de</strong> parto botava a paciente na mesa e já ia<br />

aquela quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> doutorandos ao redor porque ali é uma<br />

materni<strong>da</strong><strong>de</strong> escola. Então ficavam todos ao redor e elas<br />

ficavam com vergonha. Então eu dizia pra elas: olha, aqui só<br />

está eu, tu e Deus. Tinha um crucifixo assim do lado e eu<br />

dizia: olha ele, Jesus ali, então dá a mão pra ele, acredita e<br />

confia em mim e em Deus que esse parto aí vai <strong>da</strong>r certo. Então<br />

a gente fazia assim como que uma meditação: fecha os teus<br />

olhos; não tem mais ninguém ao redor <strong>de</strong> ti, não tem ninguém<br />

vendo, só estamos nós três aqui, e aquilo corria bem, elas<br />

ficavam calmas. Tinha que ter paciência também, e não se<br />

apavorar apesar <strong>de</strong> que às vezes a gente está assim até meio<br />

apreensiva: o neném às vezes com o bracinho na frente, a<br />

perninha, um parto pélvico, mas mesmo a gente um pouco<br />

assusta<strong>da</strong> tinha que transmitir paciência e calma para elas.<br />

Quando acontecia esses partos complicados e a mulher já era<br />

uma multípara, então já tinha o útero assim mais dilatado e<br />

tudo, a gente mesmo fazia o parto. E nós mesmas fazíamos<br />

episiotomia. Fazíamos sim: anestesiava e cortava, nós mesmas.<br />

As enfermeiras não faziam parto porque elas eram mais<br />

chefes, <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e sala <strong>de</strong> parto quase nunca tinha<br />

enfermeira. Agora no final, quando eu estava perto <strong>de</strong> me<br />

aposentar começou a entrar enfermeira.na sala <strong>de</strong> parto<br />

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