memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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5.3 Da vocação<br />
Falar sobre vocação não se constitui tarefa fácil, uma vez que ela tem implicações<br />
profun<strong>da</strong>s quando liga<strong>da</strong>s ao trabalho nas socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s complexas <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, tendo sido<br />
objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pensadores como Marx Weber. Assim, nesse trabalho, há um<br />
pequeno recorte do que ela significa no imaginário <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong> entrevista<strong>da</strong>s, e como suas<br />
concepções sobre vocação estão em consonância com o discurso que permeou a formação <strong>da</strong>s<br />
profissionais <strong>da</strong> enfermagem.<br />
Consultando o dicionário <strong>da</strong> língua portuguesa, vamos encontrar para o verbete<br />
“vocação” em Aurélio Buarque <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong>, ato <strong>de</strong> chamar, pre<strong>de</strong>stinação, tendência, escolha,<br />
e por extensão talento, aptidão. Chama a atenção os dois primeiros, uma vez que o “ato <strong>de</strong><br />
chamar” e a “pre<strong>de</strong>stinação” têm muito a ver com a aproximação <strong>da</strong> vocação ao sacerdócio,<br />
algo teológico, que ultrapassaria talvez o talento e a aptidão. A própria Florence Nightingale,<br />
apesar <strong>de</strong> só haver iniciado na enfermagem <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> visita à Alemanha aos 30 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
sentiu-se vocaciona<strong>da</strong> para cui<strong>da</strong>r dos outros, principalmente dos enfermos e <strong>de</strong>svalidos,<br />
quando sentiu o “chamado <strong>de</strong> Deus” aos 17 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tornou assim, <strong>de</strong> certa maneira,<br />
uma pre<strong>de</strong>stina<strong>da</strong> que lutou contra a forte relutância <strong>de</strong> sua família <strong>de</strong> que ela se <strong>de</strong>dicasse à<br />
Enfermagem.<br />
A discussão <strong>da</strong>s implicações que a vocação representa para o imaginário e as práticas<br />
que envolvem cui<strong>da</strong>dos especialmente na enfermagem tem sido o tema <strong>de</strong> alguns estudos que<br />
se <strong>de</strong>dicam a historicizar a profissão. As questões relativas à Enfermagem relaciona<strong>da</strong>s à<br />
vocação articulam-se sobremaneira às concepções principalmente religiosas <strong>da</strong> vocação,<br />
marca<strong>da</strong>s por um comportamento monástico, atrelando um fazer profissional à cari<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
doação, serviço <strong>de</strong>sinteressado, abnegação, etc. Nas narrativas colhi<strong>da</strong>s e analisa<strong>da</strong>s a vocação<br />
está explicita ou implicitamente presente em vários momentos coloca<strong>da</strong>s a partir <strong>de</strong> dois<br />
aspectos distintos: vocação enquanto afini<strong>da</strong><strong>de</strong> com o que se faz, e <strong>de</strong>ve estar presente em<br />
to<strong>da</strong>s as pessoas que escolhem uma carreira profissional, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do gênero ou classe<br />
social, e vocação eminentemente liga<strong>da</strong> aos papéis <strong>de</strong> gênero (papéis sexuais).<br />
5.3.1 Vocação enquanto afini<strong>da</strong><strong>de</strong> com o que se faz, e <strong>de</strong>ve estar presente em to<strong>da</strong>s as<br />
pessoas que escolhem uma carreira profissional, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do gênero<br />
Ao se expressarem sobre carreiras que se <strong>de</strong>dicam a cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s pessoas elas manifestam<br />
posições bastante concretas sobre a ausência <strong>da</strong> vocação nos dias <strong>de</strong> hoje, a busca apenas do<br />
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