13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sem exceção. Ele serve aos fins institucionais, posto que é difícil avaliar as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

integrais <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> alguém fora do seu contexto real. As relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre as partes<br />

é muito mais verticaliza<strong>da</strong>, o que po<strong>de</strong> tornar o cui<strong>da</strong>do do ponto <strong>de</strong> vista institucional moral,<br />

mas não ético do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> humanização. Vamos a um exemplo: até bem pouco<br />

tempo, e talvez ain<strong>da</strong> aconteça em muitos hospitais, uma mulher interna<strong>da</strong> não <strong>de</strong>seja fazer<br />

tricotomia mas a cui<strong>da</strong>dora realiza o procedimento mesmo contra a própria vonta<strong>de</strong>. <strong>da</strong><br />

cliente. É cui<strong>da</strong>do por parte <strong>da</strong> cui<strong>da</strong>dora se tomarmos o aspecto <strong>da</strong> rotina institucional, mas<br />

po<strong>de</strong> ser visto talvez como um não-cui<strong>da</strong>do sob o aspecto moral e ético pela assimetria na<br />

<strong>de</strong>cisão e pela falta <strong>de</strong> autonomia <strong>da</strong> mulher <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir sobre o seu próprio corpo.<br />

O reconhecimento social que integra cui<strong>da</strong>dora e sua comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> no cui<strong>da</strong>do realizado<br />

no domicílio <strong>de</strong>saparece no hospital. Ele fica oculto sob a primazia do tratar eminentemente<br />

médico. O cui<strong>da</strong>do passa a ser parte <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ações auxiliares do tratamento. A<br />

autonomia <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão praticamente inexiste, ficando a mulher à mercê <strong>da</strong>s normas e rotinas<br />

que muitas vezes ela não enten<strong>de</strong>. É claro que, apesar <strong>da</strong>s relações entre cui<strong>da</strong>doras e<br />

mulheres cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s no caso do parto em domicílio estar coloca<strong>da</strong> <strong>de</strong> certa maneira <strong>de</strong> forma<br />

mais <strong>de</strong>mocrática, nem aí elas estão livres <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que se dão entre as partes. As<br />

narrativas <strong>de</strong>monstram que as <strong>parteiras</strong> que fizeram partos domiciliares faziam valer sem<br />

dúvi<strong>da</strong> nenhuma o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> saberes mais técnicos<br />

principalmente sobre higiene e hábitos alimentares.<br />

Lima (2001) ao tratar <strong>da</strong>s questões éticas relativas ao cui<strong>da</strong>do discorre sobre essa faceta<br />

tão importante <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do ao dizer que um dos pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio do “po<strong>de</strong>r<br />

potencial manifesto”. Entre cui<strong>da</strong>doras e quem recebe cui<strong>da</strong>do está no fato <strong>de</strong> que quem cui<strong>da</strong><br />

possui, nem que seja <strong>de</strong> maneira geral, algum conhecimento <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> alguém que<br />

suscite cui<strong>da</strong>dos, ao passo que quem é cui<strong>da</strong>do geralmente não <strong>de</strong>tém nenhum conhecimento<br />

sobre quem cui<strong>da</strong>. 12 Então ela diz que:<br />

153<br />

É importante que a/o enfermeira/o seja clara/o com o/a mesma/o A <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r potencial <strong>de</strong>senvolve na clientela formas <strong>de</strong> sentimentos e ansie<strong>da</strong><strong>de</strong>s acerca<br />

<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sofrer abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na relação com o pessoal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A/o<br />

enfermeira/o não <strong>de</strong>ve minimizar, portanto, o seu po<strong>de</strong>r, ao contrário, ao exercê-lo<br />

<strong>de</strong>ve observar o impacto que suas palavras e seus atos causam na/o cliente. As<br />

preocupações <strong>da</strong>/o cliente sobre ‘o que po<strong>de</strong>m fazer comigo aqui’ <strong>de</strong>vem ser<br />

encara<strong>da</strong>s com serie<strong>da</strong><strong>de</strong> pela/o enfermeira/º até porque, muitas vezes, as<br />

12 O texto <strong>de</strong> Maria José <strong>de</strong> Lima nasceu <strong>da</strong> conferência que a mesma proferiu no último congresso brasileiro <strong>de</strong> enfermagem<br />

realizado em Curitiba em 2001, com o título <strong>de</strong> ética e cui<strong>da</strong>do. Embora no texto ela faça referência a/ao enfermeira/o uso<br />

o termo “cui<strong>da</strong>dora” porque acredito que isso se aplica à enfermagem como um todo e a outros profissionais <strong>da</strong> saú<strong>de</strong><br />

envolvidos com o cui<strong>da</strong>do.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!