13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

meses. Se dilatou o colo, quem sabe nós conseguimos fazer<br />

alguma coisa para salvar esse neném, porque ele ain<strong>da</strong> esta<br />

vivo. As irmãs me aju<strong>da</strong>ram eu tirei os tamponamentos e a<br />

mulher já tinha a dilatação quase completa. Aí eu meti a mão,<br />

perfurei a placenta e virei a criança, puxando a criança para<br />

comprimir a placenta e não sangrar mais. Tirei a criança com<br />

vi<strong>da</strong> e saú<strong>de</strong>: a criança se criou, e a mulher se salvou! Não<br />

morreu <strong>de</strong> hemorragia parou com o tamponamento Quando o médico<br />

chegou já estava tudo em “boas or<strong>de</strong>ns”.<br />

E nos partos em casa nunca tive casos <strong>de</strong> infecção. Nunca<br />

tive! Eu nunca tive problema <strong>de</strong> infecção puerperal! E olha que<br />

essa gente <strong>da</strong>qui, esse povo, eles sempre falavam que no nono<br />

dia às vezes <strong>da</strong>va uma recaí<strong>da</strong>, e eu nem sabia o que era<br />

recaí<strong>da</strong>. Recaí<strong>da</strong> era uma infecção puerperal <strong>de</strong> certo, mas era<br />

por falta <strong>de</strong> higiene. Tinha gente que não tinha higiene: elas<br />

ficavam oito, nove dias <strong>de</strong>ita<strong>da</strong>s na cama, com a mesma roupa,<br />

roupa suja e tudo. Ficavam sem tomar banho porque não se <strong>de</strong>via<br />

molhar durante o resguardo, era o hábito que elas tinham para<br />

não ter recaí<strong>da</strong>. Não podia lavar a cabeça, tinha que ficar num<br />

quarto escuro, não podia nem apanhar muita clari<strong>da</strong><strong>de</strong>. Elas<br />

falavam em mal <strong>de</strong> sete dias que <strong>da</strong>va no umbigo <strong>da</strong> criança que<br />

era tétano, não é mesmo? Aí eu cheguei aqui e eu comecei a<br />

falar para elas: olha aqui, isso tudo é besteira, isso é falta<br />

<strong>de</strong> higiene. Vocês sabem o que dá o mal <strong>de</strong> sete dias? É o<br />

tétano <strong>de</strong> umbigo, que acontece porque a parteira corta o<br />

umbigo com as mãos sujas, sem luvas, sem esterilizar na<strong>da</strong>. É<br />

só vocês terem mais higiene que na<strong>da</strong> disso acontece. E tétano<br />

umbilical é fatal!<br />

Nos partos em casa o marido participava, as crianças não.<br />

Geralmente era <strong>de</strong> noite, e eu botava todos eles num outro<br />

quarto. Às vezes quando era pequenininho não, ficava no mesmo<br />

quarto que estava a mãe. Uma vez eu fui fazer um parto, já era<br />

o quarto neném, e naquele dia a terceira criança que era uma<br />

menina, fazia três anos. Nesse parto eu estava bem sozinha, o<br />

marido <strong>de</strong>la estava viajando, e quem tinha ido lá me chamar foi<br />

o vizinho, que em segui<strong>da</strong> foi buscar a mãe <strong>de</strong>la para<br />

acompanhá-la. Nisso o parto progrediu e eu estava sozinha com<br />

um neném nascendo e com mais três pequenininhos: um ain<strong>da</strong> não<br />

an<strong>da</strong>va e dois an<strong>da</strong>vam pra lá e pra cá. Aí o que eu fiz? Tinha<br />

uma caminha “meia asa”, botei os três <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> caminha e fiz<br />

o parto <strong>da</strong> mãe. Quando a avó chegou o neném já tinha nascido e<br />

estava tudo em boas mãos. No parto mesmo os maridos aju<strong>da</strong>vam<br />

muito pouco. E eu gostava bem mais quando eu ficava sozinha<br />

com a parturiente, que com o marido junto. Mas o marido sempre<br />

tinha outros afazeres ou ia buscar a mãe. Geralmente quando o<br />

marido estava junto ela ficava mais “ganjenta”. Ela queria<br />

mais “ganja”, queria ficar abraça<strong>da</strong> com o marido e aí não se<br />

aju<strong>da</strong>va direito, e quando eu estava sozinha não, elas se<br />

<strong>de</strong>senvolviam muito melhor. Eu era muito boa, eu tinha muita<br />

paciência, mas na hora <strong>de</strong> dizer, agora você aju<strong>da</strong>, tinha que<br />

se aju<strong>da</strong>r também e saber como se aju<strong>da</strong>r. A gente <strong>da</strong>va<br />

93

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!