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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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para ficar. Disse então que não havia interesse <strong>de</strong> minha parte<br />

em permanecer na materni<strong>da</strong><strong>de</strong> em Florianópolis porque a razão<br />

pela qual eu estava fazendo o curso era ser parteira na minha<br />

região, enfim, pretendia voltar para minha ci<strong>da</strong><strong>de</strong> natal on<strong>de</strong><br />

havia necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> <strong>parteiras</strong>.<br />

O que me motivou e me fez sentir bastante vocaciona<strong>da</strong> foi<br />

um fato que ocorreu quando eu era ain<strong>da</strong> bastante jovem. Uma<br />

vizinha nossa que morava no interior teve problema <strong>de</strong> parto,<br />

teve uma hemorragia, teve retenção <strong>da</strong> placenta, e foram buscar<br />

uma parteira que morava em Vargem do Cedro, uma colônia alemã.<br />

Esta parteira era forma<strong>da</strong> na Alemanha, e chamavam-na <strong>de</strong><br />

doutora Marta. A parteira chegou e resolveu o problema: <strong>de</strong>pois<br />

é que eu soube o que era, fez a extração manual <strong>da</strong> placenta,<br />

<strong>de</strong>u soro nessa paciente, e a paciente sobreviveu. Só que no<br />

ano seguinte esta mulher ganhou um outro filho, não foi<br />

socorri<strong>da</strong> a tempo e veio a falecer. Nessa época o transporte<br />

era efetuado somente <strong>de</strong> “aranha” ou a cavalo razão pela qual o<br />

atendimento obstétrico não se fez em tempo hábil. Foi quando<br />

eu tive um “insigth” para vir fazer esse curso mas voltar para<br />

aten<strong>de</strong>r naquele lugar.<br />

Porque até então, era muito difícil as mulheres virem à<br />

materni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Elas “pegavam” seus filhos em casa, só vinham<br />

mesmo para a materni<strong>da</strong><strong>de</strong> quando não eram resolvidos os partos<br />

com <strong>parteiras</strong> curiosas. Então aos poucos elas foram se<br />

acostumando, ou seja, a mulher que sente qualquer dorzinha já<br />

vai correndo para a materni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Eu já havia comprado todo o<br />

material para trabalhar em casa, aten<strong>de</strong>r partos domiciliares<br />

na minha região. E como o presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> casa me convidou para<br />

ficar, surgiu um problema: tinha minha casa, minha mãe que era<br />

viúva, meus irmãos. Mas minha mãe então <strong>de</strong>ixou a meu critério<br />

voltar para lá ou ficar aqui. Depois eu fiquei pensando:<br />

talvez aqui eu pu<strong>de</strong>sse ser mais útil, sei lá, podia aten<strong>de</strong>r um<br />

maior número <strong>de</strong> pessoas, e acabei ficando. E esse ficando levou<br />

33 anos na Materni<strong>da</strong><strong>de</strong> Carlos Corrêa: trinta e três anos sete meses e vinte<br />

e dois dias, exerci minha profissão no mesmo local em que fiz meu primeiro<br />

curso.<br />

Eu morava lá também, tinha um quarto, tinha refeição, e<br />

“assimilei”, o que é uma casa, é que não tinha nem relógio<br />

para a gente bater ponto: tinha serviço trabalhava. Eu fiquei<br />

ali um ano e pouco trabalhando como parteira quando então veio<br />

mais uma outra trabalhar, porque era muito pesado, era para<br />

todo o serviço!. Mas foi muito gratificante, até porque hoje a<br />

minha família, muito embora tenha os laços familiares, muitos<br />

sobrinhos e irmãos que moram no sul ain<strong>da</strong>, sinto hoje que a<br />

extensão <strong>da</strong> minha família entre aspas, é esse pessoal todo que<br />

a gente aten<strong>de</strong>u. Claro, a gente se <strong>de</strong>votou a um trabalho, a um<br />

serviço. E eu acho que se tivesse as mesmas condições hoje, eu<br />

ain<strong>da</strong> não modificaria na<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> faria o mesmo.<br />

Realmente naquela época os médicos não interferiam no nosso<br />

trabalho. Bom, eu estava muni<strong>da</strong> <strong>da</strong> autorização pela diretoria,<br />

que era pelos médicos que foram meus professores, para<br />

aten<strong>de</strong>r. Até porque o número <strong>de</strong> médicos obstetras na ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

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