13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

que ain<strong>da</strong> numa linha <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> do exercício <strong>da</strong> enfermagem como exercício<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pastoral.(LUNARDI, 1998,P.37/38)<br />

Este mo<strong>de</strong>lo permanece até nossos dias, o que levou ao favorecimento <strong>da</strong> per<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

características fisiológicas e naturais do parto, passando esse a ser visto, sob a ótica médica,<br />

como patologia além <strong>da</strong> sua instrumentalização, que permite a normalização dos corpos <strong>da</strong>s<br />

mulheres. O “cui<strong>da</strong>r”, no âmbito hospitalar transforma-se em “tratar” voltado muito mais às<br />

questões técnicas que às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s humanas <strong>da</strong> mulher. Além disso, é proce<strong>de</strong>nte não nos<br />

esquecermos que a Enfermagem Profissional Mo<strong>de</strong>rna nasce no espaço hospitalar, como uma<br />

divisão sexual do trabalho em relação à medicina, e que o hospital, a partir do século XVIII se<br />

transformou em espaço <strong>de</strong> hegemonia médica (FOUCAULT, 1985).<br />

2.3 O ato <strong>de</strong> partejar entre as mulheres brasileiras<br />

É preciso atentarmos quanto ao que enten<strong>de</strong>mos como humanização do parto, e como se<br />

<strong>de</strong>u a inserção <strong>de</strong>ssas práticas no Brasil não nos esquecendo que:<br />

o trabalho <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong> foi institucionalizado quando se estruturaram os cursos <strong>de</strong><br />

formação <strong>de</strong> <strong>parteiras</strong>, anexos às Escolas <strong>de</strong> Medicina em 1832 e quando a sua<br />

prática passa a <strong>da</strong>r-se no espaço institucional hospitalar, não mais <strong>de</strong> forma<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte mas sob controle médico (PIRES 1989 P.108)<br />

Reforça ain<strong>da</strong> mais esta colocação o trabalho <strong>de</strong> Padilha et. al.dizendo que:<br />

com a reforma, inspira<strong>da</strong> nos mol<strong>de</strong>s franceses, o ensino médico passou a<br />

compreen<strong>de</strong>r três cursos: o <strong>de</strong> medicina, o <strong>de</strong> Farmácia e o <strong>de</strong> Partos e<br />

consequentemente <strong>de</strong>terminar que sem título conferido ou aprovado pelas<br />

Facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Medicina do Brasil, ninguém po<strong>de</strong>rá curar, partejar ou ter botica.<br />

(PADILHA et.al.1998, P.107)<br />

Ain<strong>da</strong> hoje, as propostas <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> pessoal para a realização <strong>de</strong> partos,<br />

<strong>de</strong>vem ter como premissa básica a orientação médica. A própria legislação do ensino <strong>de</strong><br />

enfermagem obstétrica (parecer 303/63), traz algumas contribuições a esta discussão. Aponta<br />

para o estado <strong>de</strong> “conflito” entre <strong>parteiras</strong> e enfermeiras, ao afirmar em um <strong>de</strong> seus artigos<br />

que: “Do lado <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong> vem o argumento <strong>de</strong> que exercem profissão liberal porque têm o<br />

direito <strong>de</strong> assistir ao parto normal com plena responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, enquanto a enfermagem é uma<br />

profissão sempre subordina<strong>da</strong> ao médico”.<br />

O parecer citado acima continua a apontar pistas <strong>da</strong> flagrante divisão dos papéis <strong>de</strong><br />

gênero quando se trata do cui<strong>da</strong>r em saú<strong>de</strong>, além <strong>da</strong> firme intenção <strong>da</strong> medicina em se tornar<br />

hegemônica no setor:<br />

30

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!