memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Próximo <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ela morava funcionava o “Instituto” colégio <strong>da</strong> Igreja Presbiteriana on<strong>de</strong> ela<br />
passou a estu<strong>da</strong>r. e cursou até a oitava série, enquanto lavava roupa para fora para aju<strong>da</strong>r nas<br />
<strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> casa. No final dos anos vinte a mãe adoece gravemente: câncer <strong>de</strong> colo uterino<br />
que a fez pa<strong>de</strong>cer e <strong>de</strong>finhar três longos anos aos cui<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> filha Maria, nos sete últimos<br />
meses <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> acama<strong>da</strong>, totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Quando a mãe morreu ela estava com apenas<br />
quinze anos.<br />
Os irmãos que ficaram com ela se <strong>de</strong>dicaram à marcenaria e outro a fazer sapatos e ela<br />
teria um <strong>de</strong>stino diferente. Quando completou <strong>de</strong>zoito anos a igreja presbiteriana abriu um<br />
instituto bíblico do qual ela fez parte <strong>da</strong> primeira turma como aluna convi<strong>da</strong><strong>da</strong>. Apren<strong>de</strong>u <strong>de</strong><br />
teologia à música. Ao final do primeiro ano que contava com onze alunos, todos foram<br />
embora tendo ela repetido novamente o primeiro ano junto aos novos colegas, Terminou o<br />
curso em mil novecentos e trinta e seis com “brilhantismo” e já sabia tocar órgão, porque<br />
sempre gostou <strong>de</strong> música.<br />
Em mil novecentos e trinta e sete mudou-se para Monte Carmelo e foi trabalhar no<br />
Eduncan<strong>da</strong>rio Carmelitano on<strong>de</strong> permaneceu cerca <strong>de</strong> dois anos. Então aconteceu uma<br />
Convenção <strong>da</strong> Igreja Presbiteriana em Patrocínio <strong>da</strong> qual ela participou e foi <strong>de</strong>cisiva em sua<br />
vi<strong>da</strong>. O diretor do instituto, reverendo Eduardo Leme, convidou-a para fazer o curso <strong>de</strong><br />
Enfermagem.<br />
Dona Oliveira, como é conheci<strong>da</strong> em Pirapora, é uma mulher ativa, inteligente, uma<br />
“contadora <strong>de</strong> história” que dá muito gosto a gente ouvir. Cheguei até ela para realizar<br />
entrevista através <strong>de</strong> Dona Cardoso, que trabalhara com ela à época em que o atual hospital<br />
Municipal ain<strong>da</strong> era do SESP. Não quis marcar entrevista para outro dia: ela estava<br />
disponível, e seu marido também, (ele permaneceu a maior parte <strong>da</strong> entrevista ao lado <strong>de</strong>la<br />
confirmando as coisas que ela dizia, lembrando nomes). Dona Cardoso também permaneceu<br />
junto a nós e não é difícil imaginar que houve intervenções <strong>da</strong> parte <strong>de</strong>la, afinal<br />
compartilharam tantas coisas, e Cardoso tem muita admiração e respeito por ela.<br />
Este foi um encontro permeado <strong>de</strong> muitas fotos, muitos documentos que ela mantém<br />
guar<strong>da</strong>dos num “baú” <strong>de</strong> recor<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> velha Pirapora que acalenta ain<strong>da</strong> com muito carinho<br />
em sua memória: os bons tempos dos velhos vapores, do Benjamim Constant, Wenceslau<br />
Bráz, serpenteando rio acima até Juazeiro na Bahia, integrando boa parte <strong>de</strong>ssa região semi<br />
ári<strong>da</strong> do país.<br />
120