memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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encontrar tudo prontinho. A gente não <strong>de</strong>ixava faltar material,<br />
equipava a sala, até chão a gente limpava. Limpava a mesa do<br />
parto, sangra bastante, bastante coisa, a gente aí já limpava.<br />
Não tem uma servente para limpar? Eu mesma limpo, enten<strong>de</strong>,<br />
parteira tem que trabalhar. E aí com esse negócio <strong>de</strong><br />
facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, elas ficam muito assim: não, isso não é meu<br />
serviço, empurrar uma maca não! chamavam na sala <strong>de</strong> parto lá<br />
<strong>da</strong> portaria: oh!, chegou uma paciente já ganhando no carro.<br />
Ai, a maca já estava ali <strong>de</strong> prontidão que a gente já mantinha<br />
ela prontinha para um caso <strong>de</strong> emergência. Botava só um pacote<br />
<strong>de</strong> parto ali, o material para pinçar o umbigo do neném e já<br />
saía correndo. Já uma enfermeira não vai correr pelo corredor<br />
com a maca! E a gente ia correndo com aquela maca: chegava, já<br />
pinçava o umbigo ali <strong>de</strong>ntro do carro mesmo, botava a luva que<br />
a gente já levava a luva. Embrulhava ali o neném, entregava a<br />
uma aten<strong>de</strong>nte que chegava, e já tratava <strong>da</strong> mãe ali.mesmo.<br />
Então tem que trabalhar, tem que ter amor ao serviço,<br />
humil<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> limpar chão, limpar tudo. Porque uma pessoa que<br />
faz facul<strong>da</strong><strong>de</strong> ela se acha assim superior, não <strong>de</strong>ve limpar<br />
chão. Não! Se precisar limpa mesmo. E tem que correr nas<br />
emergências, tem que ser trabalha<strong>de</strong>ira.<br />
Eu me aposentei em 94, vai fazer sete anos agora em<br />
setembro, e até essa <strong>da</strong>ta eu fazia partos, ain<strong>da</strong> fazia sim.<br />
Mesmo com resi<strong>de</strong>nte a gente fazia, porque o movimento vai<br />
crescendo, o médico também não dá conta. Porque ficavam dois<br />
resi<strong>de</strong>ntes, ou uma resi<strong>de</strong>nte na sala, mas também era pouco.<br />
Eram três mesas <strong>de</strong> parto lá <strong>de</strong>ntro, e às vezes to<strong>da</strong>s as três<br />
mesas estavam ocupa<strong>da</strong>s. Vinha muito mulher <strong>de</strong> fora, <strong>de</strong> outras<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s ganhar ali.<br />
Procure conhecer a Carlos Corrêa, é pertinho, na Av.<br />
Hercílio Luz. É uma casa bem bonita muito bem conserva<strong>da</strong>, tudo<br />
que é <strong>de</strong> freira é muito bom. Quando a gente entrou para a<br />
Carmela Dutra ain<strong>da</strong> tinha freira ali. Era um negócio com mais<br />
respeito porque em tudo tem que ter a religião, o sentido<br />
religioso em tudo. Porque só assim há mais or<strong>de</strong>m, mais<br />
respeito. Mas as freiras saíram ficaram só na Carlos Corrêa.<br />
Eu só sei dizer que foi maravilhoso ter feito tantos<br />
partos: hoje a maioria já está tudo moço não é? Ain<strong>da</strong> tem<br />
outros menores, ca<strong>da</strong> criança lin<strong>da</strong> que eu vejo, que pasmo e<br />
paro para pensar: mas será <strong>de</strong> fato que fui eu? Era bom mesmo<br />
fazer parto!<br />
ARMY CANDEMIL CAPANEMA<br />
Army nasceu no sul <strong>de</strong> Santa Catarina, em Aratingaúba, município <strong>de</strong> Imaruí no dia<br />
<strong>de</strong>zoito <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> mil novecentos e vinte e três. Décima primeira filha <strong>de</strong> uma família <strong>de</strong><br />
doze irmãos, passou a infância com a família entre brinca<strong>de</strong>iras e brinquedos por eles mesmos<br />
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