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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> assistência psicológica, emocional, às gestantes e parturientes<br />

tem sido ressaltado, ultimamente, o relevante papel <strong>da</strong> obstetriz. Até na América do<br />

Norte (vi<strong>de</strong> Herbert Thoms, In Am. J.Obst. Gyn. Dec. 56, pág. 1 305-8). Trata-se<br />

<strong>de</strong> assistência individual que o médico não po<strong>de</strong> exercer, por falta absoluta <strong>de</strong><br />

tempo. É ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> niti<strong>da</strong>mente <strong>de</strong> parteira, até mesmo pela sua natureza, mais<br />

acessível à mulher” [...] O gran<strong>de</strong> papel <strong>da</strong> parteira é o <strong>de</strong> reconhecer as anomalias,<br />

a tempo <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar o socorro do obstetra, para salvar a mãe e o filho.<br />

Infelizmente muitos aci<strong>de</strong>ntes são imprevistos. Alguns, mais simples e mecânicos,<br />

po<strong>de</strong>m ser atendidos pela parteira; outros, mais graves, po<strong>de</strong>m acarretar a morte do<br />

feto ou <strong>da</strong> mãe, se o socorro médico não chegar a tempo. Por isso, no futuro, todo<br />

parto <strong>de</strong>verá ser assistido por médico, em materni<strong>da</strong><strong>de</strong> bem instala<strong>da</strong> e equipa<strong>da</strong>.<br />

Então não haverá obstetrizes, mas somente obstetras, para assistir a todos os partos”<br />

Brasil M. S. (1974 p. 47). (grifos meus).<br />

O trabalho <strong>da</strong> parteira vai efetivamente se transformando em trabalho ilegal, apontando<br />

a tendência que iria <strong>de</strong>saguar na Lei 5540/68, e ser coloca<strong>da</strong> em prática em 1973 através <strong>da</strong><br />

reforma universitária. “[...]a partir <strong>de</strong> 1973 o curso <strong>de</strong> obstetrícia, <strong>de</strong>stinado à formação <strong>de</strong><br />

obstetrizes, passou <strong>da</strong>s facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> medicina para as escolas <strong>de</strong> enfermagem[...]”<br />

(BONADIO et.al. 1999, p.25)<br />

A partir <strong>de</strong> então, ou seja, 1973, as escolas <strong>de</strong> enfermagem passam a oferecer duas<br />

formas <strong>de</strong> se especializar: através <strong>da</strong>s habilitações e <strong>da</strong>s especializações em enfermagem<br />

obstétrica propriamente ditas. Assim, entre várias <strong>de</strong>scontinui<strong>da</strong><strong>de</strong>s, as escolas <strong>de</strong><br />

enfermagem, em 20 anos, formaram apenas 1.756 profissionais! Riesco (1999) ao comentar<br />

<strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s entrevistas que realizou em sua pesquisa diz que há referência a <strong>de</strong>zoito mil<br />

médicos gineco-obstetras atuando no Brasil e que este número é insuficiente para aten<strong>de</strong>r a<br />

<strong>de</strong>man<strong>da</strong> brasileira. Ela comenta ain<strong>da</strong> que o número <strong>de</strong> enfermeiras obstétricas é muito baixo<br />

no país, estão concentra<strong>da</strong>s no Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo, percebem salários baixos, o que<br />

abre espaço para a formação e ampliação <strong>da</strong> assistência ao parto por não médicos sem<br />

formação universitária.<br />

Dentre os motivos apontados pelas escolas que interromperam seus cursos, po<strong>de</strong>mos<br />

<strong>de</strong>stacar o <strong>de</strong> que “[...]a falta <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> estágio, seja por reformas na instituição utiliza<strong>da</strong><br />

como campo <strong>de</strong> prática, seja pela impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação do enfermeiro obstetra no<br />

período intraparto” (Bonadio et.al., 1999, p.27). (grifos meus). Os motivos apontados, a<br />

meu ver são a “ponta do “iceberg”, fazem parte <strong>de</strong> um problema bem mais amplo que não<br />

tenho visto ser contemplado nas discussões em torno <strong>da</strong> situação <strong>da</strong> enfermeira obstétrica, e<br />

<strong>da</strong> enfermeira <strong>de</strong> maneira geral: trata-se <strong>de</strong> uma correlação <strong>de</strong> forças entre medicina e<br />

enfermagem, apoia<strong>da</strong> no habitus que fortalece e legitima a dominação <strong>de</strong> gênero, se esta for<br />

pensa<strong>da</strong> à luz do referencial <strong>da</strong> dominação simbólica proposta por Pierre Bourdieu (1995).<br />

Ora, o que quero propor ao fazer esta colocação? É que na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> estamos fora do jogo,<br />

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