13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

cinqüenta anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> ganhou o neném. Com quarenta e nove eu<br />

fiz um parto <strong>de</strong>la e pensei que era o último porque ela tinha<br />

uma turma <strong>de</strong> doze ou treze, eu pensei, <strong>de</strong> certo agora é o<br />

último. Onze meses <strong>de</strong>pois eu fiz mais um parto, ela estava com<br />

cinqüenta anos. e nasceu um neném bonito, forte, normal, tudo<br />

normal. Quando os médicos começaram a fazer partos naquele<br />

tempo, meu Deus, um homem[...] a mulher perto do marido nem a<br />

roupa tirava. Relação sexual era no escuro e nem tirava uma<br />

roupa e Deus o livre se trocava a calcinha perto do marido ou<br />

o marido trocava a roupa perto <strong>da</strong> mulher. Ninguém ficava<br />

sabendo, era tudo na escondi<strong>da</strong>. Eu saí do interior com<br />

<strong>de</strong>zessete anos cheguei lá na materni<strong>da</strong><strong>de</strong> e encarei tudo com<br />

muita naturali<strong>da</strong><strong>de</strong>, parece que era para ser para mim. Agora os<br />

tempos são outros e a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que tudo mu<strong>da</strong>[...]<br />

TEREZINHA DO MENINO JESUS PEREIRA<br />

D. Terezinha nasceu em Jequitaí no dia nove <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> mil novecentos e trinta e cinco,<br />

aon<strong>de</strong> vive até hoje. Fez apenas o curso primário e enfrentou uma dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> extra na vi<strong>da</strong>:<br />

não se casou e teve quatro filhos educando-os e encaminhando-os na vi<strong>da</strong> sózinha. Esta era<br />

uma situação pouco comum para a época, uma mulher não se casar e assumir ter filhos.<br />

Estudou todos os filhos, o que a <strong>de</strong>ixa muito orgulhosa porque não foi sem muitos sacrifícios<br />

conforme ela mesma conta.<br />

Mas ela sempre recebeu o apoio <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> pequena Jequitaí porque não só<br />

<strong>de</strong>dicou sua vi<strong>da</strong> aos interesses particulares, mas foi também uma mulher que sempre lutou<br />

pelo bem estar <strong>da</strong>s pessoas principalmente os menos favorecidos. Na região norte mineira<br />

“Dona Tereza <strong>de</strong> Jequitaí” é um nome bastante conhecido, marcado por dois fatos: ser<br />

parteira, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar-se à política lutando sempre por melhores condições <strong>de</strong> atendimento<br />

às pessoas.<br />

Elegeu-se vereadora por três man<strong>da</strong>tos ocupando o cargo <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> câmara, sem<br />

nunca abandonar seu principal ofício: fazer partos. Continua trabalhando até hoje na área <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> só que agora não po<strong>de</strong> mais fazer o que sempre gostou: partos.<br />

Na tar<strong>de</strong> do dia treze <strong>de</strong> novembro Dona Tereza me recebeu prontamente para a<br />

entrevista, com seu jeito calmo <strong>de</strong> falar, e uma doçura expressa<strong>da</strong> pelos belos olhos<br />

esver<strong>de</strong>ados, cuja cor oscila quando as lembranças a <strong>de</strong>ixam emociona<strong>da</strong> ou indigna<strong>da</strong>.<br />

Porque ela se indigna com a maneira como se aten<strong>de</strong> as pessoas hoje: sem nenhuma<br />

humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

105

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!