13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

visita médica e foi para o quarto, eu bati na porta: com<br />

licença Dr., eu cheguei aqui pela manhã e esta menina veio<br />

chorando para o meu lado, esta menina <strong>de</strong>u alguma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

para o sr? Não, mas a sra. sabe, a ocasião faz o ladrão[...]Aí<br />

eu chamei a atenção <strong>de</strong>le: olha Dr., nós temos o Sr. aqui como<br />

um pai, o Sr. não é criança e além do mais o Sr. é um médico!<br />

E nós não aceitamos esse tipo <strong>de</strong> conduta, enfermagem aqui tem<br />

valor. Nunca mais ele se comportou <strong>de</strong> maneira tão imprópria.<br />

No lado profissional, eles respeitavam e aceitavam tudo<br />

que eu fazia, aceitavam tudo. Nesse ponto aí não, sempre foi<br />

muito bom. D. Cardoso, eles respeitavam. Imagina que eu<br />

trabalhei 32 anos e oito meses no hospital do SESP,<br />

trabalhando dia e noite. Tinha dia que eu chegava a per<strong>de</strong>r a<br />

noção do tempo, não sabia quantas horas eram, ficava dois três<br />

dias lá sem po<strong>de</strong>r sair, porque o movimento era gran<strong>de</strong>. Mas<br />

olha, eu tenho uma paixão: vieram aí e levaram o livro <strong>de</strong><br />

partos, e eu não tirei a relação dos partos que a gente fez.<br />

Esse livro foi lá para Belo Horizonte, para a Fun<strong>da</strong>ção SESP.<br />

Levaram o livro <strong>de</strong> parto e não <strong>de</strong>volveram. Abriram outro livro<br />

e eu não tomei nota dos partos que a gente fez. Mas foram<br />

muitos. Eu fiz partos até quando me aposentei. Aí as<br />

auxiliares <strong>de</strong> enfermagem já estavam aptas para fazerem parto,<br />

parto normal, não é, qualquer problema chamava o médico,<br />

porque elas estavam a altura <strong>da</strong> função, e controlavam<br />

direitinho, to<strong>da</strong>s elas. Nenhuma menina fez besteira, não é D.<br />

Cardoso, nenhuma. Bom, pelo SESP, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos cinquenta até<br />

quando eu saí acho que não houve muita mu<strong>da</strong>nça. Eu não penso<br />

que só o médico <strong>de</strong>va fazer parto: se há outra pessoa que é<br />

cre<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> para fazer o parto normal que ótimo, e se for um<br />

parto complicado o médico tem que atuar mesmo. Não vejo razão<br />

para que uma pessoa que está a altura, competente, tem<br />

instrução, sabe o que está fazendo, ser proibi<strong>da</strong> <strong>de</strong> fazer, eu<br />

não vejo mal nisso <strong>de</strong> maneira nenhuma. Olha, <strong>de</strong>pois que fundou<br />

o hospital, a gente não trabalhou mais domiciliar. Vinham<br />

pessoas aqui, eu ia à casa <strong>da</strong> parturiente e levava para o<br />

hospital e eu mesma fazia o parto lá, só mudou o local.<br />

Agora, para fazer esse trabalho eu não sei se <strong>de</strong>ve ter<br />

vocação ou se amor, ou se é carinho, ou se é reconhecimento.<br />

Mas a pessoa tem vocação, pra tudo a pessoa tem vocação. De<br />

forma que eu fui uma parteira, na escola pelo menos, não sei<br />

se é confiança, mas a pessoa tem vocação <strong>de</strong> trabalhar com<br />

paciente. Porque tem pessoas que não gostam, têm nojo, têm<br />

escrúpulo, têm medo, não po<strong>de</strong>m ver sangue. Porque a atuação no<br />

momento, é feia. Parto é coisa bonita e é coisa feia, não é? a<br />

aparência dos genitais, o sangue[...]Mas a chega<strong>da</strong> do recém<br />

nascido é a coisa mais lin<strong>da</strong>! A coisa mais lin<strong>da</strong>! Aquele que<br />

vem normalzinho que chega e pega o <strong>de</strong>dinho <strong>da</strong> gente e não<br />

solta, pega uma coberta lá e segura.<br />

A enfermagem está mu<strong>da</strong>ndo ca<strong>da</strong> vez mais, na parte médica<br />

está mu<strong>da</strong>ndo. A enfermagem está muito reprimi<strong>da</strong> Elas não têm<br />

mais liber<strong>da</strong><strong>de</strong> por causa dos médicos. Na minha época era mais<br />

129

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!