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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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como uma opção neste estudo, é a <strong>de</strong> colocar as mulheres <strong>da</strong> colônia pesquisa<strong>da</strong> não como<br />

meros objetos <strong>de</strong> pesquisa com centrali<strong>da</strong><strong>de</strong> na/o pesquisadora/or, e sim como colaboradoras<br />

que efetivamente viveram a experiência e se dispuseram a compartilhá-la. Penso que a re-<br />

construção elabora<strong>da</strong> pela narrativa on<strong>de</strong> o imaginário flui e se lança no presente, só se dá a<br />

partir <strong>da</strong>s experiências concretas dos sujeitos, ou seja, a apropriação do real pelas vias do<br />

imaginário só é possível na interpretação que ca<strong>da</strong> um, em particular, tem <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> na qual<br />

se insere em to<strong>da</strong>s as circunstâncias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Partindo <strong>de</strong>ssas premissas metodológicas e respon<strong>de</strong>ndo aos objetivos <strong>de</strong> um trabalho<br />

<strong>de</strong> cunho acadêmico, foi possível elaborar algumas reflexões que emergiram no bojo do<br />

encontro entre pesquisadora e colaboradoras; aporte teórico com ênfase nas relações <strong>de</strong><br />

gênero; uma breve retrospectiva histórica sobre o ato <strong>de</strong> partejar no oci<strong>de</strong>nte, e a minha<br />

experiência pessoal na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>. Assim po<strong>de</strong>-se pontuar as seguintes reflexões:<br />

Desconstrução do imaginário <strong>de</strong> que to<strong>da</strong>s as <strong>parteiras</strong> são analfabetas, sujas, e só<br />

trazem malefícios tanto às mães quanto aos recém-nascidos. Este imaginário faz parte <strong>de</strong> uma<br />

construção histórica que se iniciou com a misoginia e o pessimismo sexual na I<strong>da</strong><strong>de</strong> Média, e<br />

fortaleceu-se no início <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> pela caça às bruxas durante a inquisição. Firmou-se<br />

politicamente com a apropriação <strong>de</strong>sse saber pela medicina científica e masculina (varões),<br />

marca<strong>da</strong> pela instrumentalização do parto. Esta luta política po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> já no século<br />

XIX na França, entre Ma<strong>da</strong>me La Chapelle e seu projeto <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> partos só para mulheres,<br />

e Leroy (1742-1816) com seu projeto <strong>de</strong> escola <strong>de</strong> partos só para homens, “<strong>de</strong>dicados<br />

sacerdotalmente à pesquisa” (BRENES, 2000).<br />

Aos poucos os médicos vão se apropriando <strong>de</strong>sse saber em todos os sentidos (ver<br />

figura I), tomando para si inclusive o ensino <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong>, o que ocorreu também no<br />

Brasil a partir do século XIX. O ensino <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong> passa às escolas <strong>de</strong> enfermagem<br />

na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> sessenta, o que abriu espaço para a formação <strong>de</strong> enfermeiras obstétricas<br />

a nível <strong>de</strong> especialização;<br />

As <strong>parteiras</strong> que fizeram parte <strong>de</strong>ssa pesquisa na sua maioria estavam liga<strong>da</strong>s à<br />

enfermagem, inclusive uma <strong>de</strong>las tendo se formado em uma <strong>da</strong>s primeiras escolas<br />

brasileiras <strong>de</strong> padrão Nightingaleano. No curso <strong>de</strong> <strong>parteiras</strong> <strong>da</strong> Materni<strong>da</strong><strong>de</strong> Carlos<br />

Corrêa em Florianópolis, cujo certificado conferia o título <strong>de</strong> enfermeira obstétrica<br />

conforme disseram D. Army e D. Deta, durante o internato <strong>de</strong> dois anos naquela<br />

instituição, período que durava o curso, elas é quem faziam todos os cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong><br />

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