memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>da</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional <strong>da</strong> enfermeira, que inclusive no discurso acadêmico é enfermeiro.<br />
Meyer (1998, p.17) afirma que:<br />
[...] a linguagem- longe <strong>de</strong> ser somente um veículo que nos permite ter acesso a um<br />
sentido fixado <strong>de</strong> forma inerente e duradoura às coisas, pessoas e eventos ou <strong>de</strong> ser<br />
um meio que transmite com transparência e neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> os significados que<br />
preten<strong>de</strong>mos expressar- é a instância em que se constróem os sentidos que<br />
atribuímos ao mundo e a nós mesmos, o que é o mesmo que dizer que a linguagem<br />
produz aquilo que reconhecemos como sendo o real ou a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao mesmo tempo<br />
que produz sujeitos que aí estão implicados.<br />
2.4 Fazendo Gênero: a opção por um marco conceitual<br />
É bem evi<strong>de</strong>nte que os homens e as mulheres têm a mesma natureza e a mesma<br />
constituição. A prova disso é que as mulheres selvagens são tão robustas e ágeis<br />
quanto os homens selvagens: assim, a fraqueza <strong>de</strong> nossa constituição e <strong>de</strong> nossos<br />
órgãos pertence certamente à nossa educação, e é uma conseqüência <strong>da</strong> condição<br />
que nos <strong>de</strong>stinam na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Os homens e as mulheres, tendo a mesma natureza e<br />
a mesma constituição são susceptíveis <strong>da</strong>s mesmas virtu<strong>de</strong>s e dos mesmos vícios. As<br />
virtu<strong>de</strong>s que se quis <strong>da</strong>r a elas, em geral, são quase to<strong>da</strong>s contra a natureza, que só<br />
produzindo pequenas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s artificiais, e <strong>da</strong>nos muito reais” (Carta <strong>de</strong> Ma<strong>da</strong>me<br />
D’Epinay ao aba<strong>de</strong> Galiani em 14/ 04/ 1772. In: (BADINTER, P.137-138).<br />
Como já foi explicitado até o momento, esse estudo não preten<strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r os aspectos<br />
técnicos relativos ao ato <strong>de</strong> partejar e sim lançar luzes, ou seja, <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> aos<br />
significados e às relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que emergem no bojo <strong>de</strong>ssa prática e permanecem como<br />
naturais e aceitas como tal no imaginário social. Assim, optou-se pelo gênero como marco <strong>de</strong><br />
referência, enten<strong>de</strong>ndo gênero como proposto por Joan Scott que ao trabalhar a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />
gênero afirma que:<br />
O núcleo <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição repousa numa conexão integral entre duas proposições: (1) o<br />
gênero é um elemento constitutivo <strong>de</strong> relações sociais basea<strong>da</strong>s nas diferenças<br />
percebi<strong>da</strong>s entre os sexos e (2) o gênero é uma forma primária <strong>de</strong> <strong>da</strong>r significado às<br />
relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. (SCOTT 1995, P.86).<br />
Comentando esse conceito <strong>de</strong> Joan Scott, Meyer(1998) vai afirmar a importância <strong>da</strong><br />
noção <strong>de</strong> linguagem para os estudos <strong>de</strong> gênero, e a <strong>de</strong>sconstrução proposta a partir do Pós-<br />
Estruturalismo, em que i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e po<strong>de</strong>r não se dão no vazio e não são estáveis. A autora<br />
diz que :<br />
É quando <strong>de</strong>sdobra estas proposições que a autora remete a Derri<strong>da</strong> e a Foucault,<br />
para enfatizar dois pontos centrais <strong>de</strong> sua argumentação: o <strong>de</strong> que é preciso<br />
<strong>de</strong>sconstruir o “caráter permanente <strong>de</strong> oposição binária masculino/feminino e o <strong>de</strong><br />
que o po<strong>de</strong>r não se refere à noção <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r social unificado, coerente e<br />
33