memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC
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Certo é que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos imemoriais, através <strong>da</strong> história transmiti<strong>da</strong> oralmente <strong>de</strong><br />
geração a geração, dos símbolos perpetuados pelas expressões artísticas, <strong>da</strong> história escrita <strong>de</strong><br />
tantas civilizações antigas, e até através <strong>de</strong> passagens <strong>da</strong> Bíblia Sagra<strong>da</strong>, o ato <strong>de</strong> partejar<br />
sempre esteve ligado ao fazer/cui<strong>da</strong>r feminino, através <strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong>s <strong>parteiras</strong>. Este ato<br />
sempre esteve ligado à cosmologia <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> grupo cultural distinto, e marcado pelas<br />
representações e significados que ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> lhe atribui em <strong>de</strong>terminações históricas<br />
concretas.<br />
De acordo com alguns historiadores, a observação sistemática dos “eventos” do corpo<br />
estiveram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios ligados ao parto e à parturição, relacionado não somente à<br />
perplexi<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao <strong>de</strong>slumbramento representado pela “magia” <strong>da</strong> reprodução, mas também<br />
pelo fato <strong>de</strong> que a “ocorrência repeti<strong>da</strong> <strong>de</strong> sintomas comuns produziu um sentimento <strong>de</strong><br />
familiari<strong>da</strong><strong>de</strong> com os processos <strong>de</strong> parto e aborto, assim como os <strong>da</strong> ciclici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />
menstruações, <strong>da</strong> ausência <strong>de</strong>stas na gravi<strong>de</strong>z, dos sangramentos abun<strong>da</strong>ntes nos abortos etc”.<br />
(DINIZ 1996, P. 36). Assim, po<strong>de</strong>-se supor que o ato <strong>de</strong> partejar, e a parteira como sujeito<br />
<strong>de</strong>ssa ação, estejam intimamente ligados aos primórdios <strong>da</strong> história <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, medicina e<br />
enfermagem.<br />
No antigo Egito, havia estreita relação entre as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s religiosas e os atos relativos à<br />
manutenção <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>. Cultuava-se Ísis entre os egípcios como “[...] a <strong>de</strong>usa protetora <strong>da</strong><br />
medicina, <strong>da</strong> espécie humana, <strong>da</strong> magia, dos encantamentos, <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> materni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
e protetora <strong>da</strong>s mulheres em todos os problemas peculiares ao sexo” Diniz (1996, p.2). Ain<strong>da</strong><br />
segundo essa autora, os homens não participavam dos cui<strong>da</strong>dos às mulheres durante o parto,<br />
sendo sua participação restrita às complicações on<strong>de</strong> praticavam a craniotomia, o que veio a<br />
ser <strong>de</strong>nominado “obstetrícia <strong>de</strong>strutiva”. A força e o po<strong>de</strong>r do culto a Ísis no Egito é atribuí<strong>da</strong><br />
ao alto prestígio que as mulheres gozavam na antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Na Grécia Antiga as mulheres que se <strong>de</strong>dicavam às práticas relaciona<strong>da</strong>s à parturição<br />
eram chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> maieutas, e segundo alguns autores gozavam <strong>de</strong> prestígio na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. A<br />
maiêutica, que seria o conjunto <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s relaciona<strong>da</strong>s à gravi<strong>de</strong>z, parto, enfim a to<strong>da</strong>s as<br />
fases <strong>da</strong> reprodução, teria relação com a Deusa Maia, ou (Maya para os hindus) em grego<br />
significa “parteira, ama ou avó” (DINIZ, 1996).<br />
Para ser maieuta era preciso ter passado pela experiência do parto, ter tido filho, e estar<br />
na menopausa. Isto estava associado ao fato <strong>de</strong> que na Grécia, a partir <strong>da</strong> menopausa, as<br />
mulheres podiam ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, o que levava a muitas a optar pelo ofício <strong>de</strong> maieuta.<br />
DINIZ coloca em seu trabalho que:<br />
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