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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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<strong>de</strong>mais não levastes ligeiro que chega! Porque o que era<br />

possível fazer, fazia, até o impossível. Muitas vezes, em<br />

casos difíceis e com tempo <strong>de</strong> chuva, <strong>de</strong> enchentes <strong>de</strong> rio, a<br />

gente era obriga<strong>da</strong> até a fazer umas inversões para bem tirar a<br />

criança e salvar mãe e filho. Acontecia a precedência do<br />

cordão umbilical e para eu po<strong>de</strong>r salvar uma criança com<br />

procedência <strong>de</strong> cordão não podia ser por parto cefálico, eu<br />

tinha que fazer inversão e fazer um parto podálico, tirar<br />

pelos pezinhos o neném para po<strong>de</strong>r salvar a criança, e <strong>da</strong>va<br />

tudo certo. Salvei muitas crianças assim e muitas mães também,<br />

às vezes até com placenta prévia.<br />

Eu passei muito trabalho, me lembro que uma vez uma<br />

senhora que estava com placenta prévia, hemorragia, me <strong>de</strong>u um<br />

enorme trabalho. Ela estava lá no Costão <strong>da</strong> Serra e os rios<br />

todos cheios: enchente, e eu não sabia como tirar essa mulher<br />

<strong>de</strong> lá. Ela tinha uns três <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> dilatação, e o que eu fiz<br />

para parar a hemorragia? Eu fiz um tamponamento, eu tinha<br />

compressas, ataduras, e gazes esteriliza<strong>da</strong>s, e eu tamponei<br />

para não sangrar mais. Era noite, aí fiz uma “bran<strong>da</strong>”, bran<strong>da</strong><br />

é um tipo <strong>de</strong> uma padiola: pegava umas duas varas, esticava<br />

cor<strong>da</strong>s por cima e <strong>de</strong>pois botava cobertas em cima. Deitei a<br />

mulher na bran<strong>da</strong> e com quatro homens carregando tentei tirar a<br />

mulher <strong>de</strong> lá, mas não <strong>da</strong>va para passar o rio estava muito<br />

cheio. Então tinha que carregar ela até chegar numa ponte <strong>de</strong><br />

arame e não tinha caminho, era passar por <strong>de</strong>ntro do mato.<br />

Então iam dois homens com foices na frente roçando o mato,<br />

abrindo caminho e eu ia com a faixa <strong>de</strong> taquara acesa para eles<br />

enxergar por on<strong>de</strong> nós tínhamos que ir. An<strong>da</strong>mos muito até<br />

chegar na ponte <strong>de</strong> arame. Atravessamos a ponte <strong>de</strong> arame, e<br />

logo do outro lado encontramos uma caminhonetesinha. Colocamos<br />

ela em cima do carro mas logo abaixo tinha outro rio que<br />

estava cheio, e agora passar esse rio? Lá não tinha ponte <strong>de</strong><br />

arame, não tinha <strong>de</strong>svio, não tinha na<strong>da</strong>. Chamaram os vizinhos<br />

porque ali tinha um engenho <strong>de</strong> açúcar. Eles pegaram um cocho<br />

<strong>da</strong>queles <strong>de</strong> açúcar e <strong>da</strong>í com dois homens e dois remos, me<br />

colocaram <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quele cocho e me levaram para o outro lado<br />

do rio. Em segui<strong>da</strong> eles atravessaram novamente o rio e<br />

trouxeram a parturiente <strong>de</strong>ntro do cocho também. Vieram mais<br />

dois homens e assim foram passando, e carregamos a parturiente<br />

mais um bom pe<strong>da</strong>ço. Chegamos então num lugar que tinha um<br />

caminhãozinho que nos levou até Braço do Norte. Lá o Rio Braço<br />

do Norte estava muito cheio também. Ali tinha balsa, mas a<br />

balsa não <strong>da</strong>va “passo” porque o rio transbor<strong>da</strong>va. Mas aí<br />

chamaram vizinhos e eles foram nos aju<strong>da</strong>ndo: botamos a mulher<br />

em cima com a padiola, e <strong>de</strong> lá nós caminhamos até o hospital.<br />

Nisso estava quase clareando o dia, já era <strong>de</strong> madruga<strong>da</strong>, já<br />

era umas quatro horas <strong>da</strong> manhã. Chegamos enfim ao hospital e<br />

não tinha médico. Eu disse para a irmã que era responsável<br />

pelo hospital: e agora? Agora vocês têm que me aju<strong>da</strong>r porque<br />

eu vou ter que tirar esses tamponamentos e ver como é que<br />

está, se dilatou, essas coisas. Era prematuro, era <strong>de</strong> sete<br />

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