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memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

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gaguejou: mas ali são moças não po<strong>de</strong>m lavar, essas coisas <strong>de</strong><br />

filhos[...]Que moça não po<strong>de</strong> lavar roupa o quê minha senhora!<br />

Tirei a roupa to<strong>da</strong>, fiz aquela trouxinha, e falei com as três<br />

moças: lava essa roupa que eu vou fazer dois banhos ali<br />

encima, que eu cui<strong>da</strong>va dos banhos,tinha dia <strong>de</strong> você ter<br />

<strong>de</strong>z,onze banhos. E quando eu voltar aqui quero tudo prontinho,<br />

tudo muito limpinho para eu banhar o neném. Então enquanto eu<br />

vou lá e volto quero essa roupa lava<strong>da</strong> e seca, pra eu <strong>da</strong>r<br />

banho nela e no nenêm. Enxuga à ferro. Cheguei e estava tudo<br />

arrumadinho. Mas tinha que ser dura! Isso foi muitas vezes,<br />

quando não tinha a gente <strong>da</strong>va um jeito, levava uma roupinha e<br />

tudo assim. Ensinamos o povo a comer, comer <strong>de</strong> tudo, porque<br />

muitas <strong>de</strong>las quando iam para o hospital já comiam <strong>de</strong> tudo<br />

porque a gente já havia ensinado.<br />

Na minha atuação, homem nunca assistiu um parto. Às vezes<br />

o marido, lá uma vez ou outra, mas nem os maridos. Sempre<br />

tinha uma outra pessoa, uma pessoa <strong>da</strong> família, às vezes até<br />

vizinha, amiga. Homem nunca, no meu tempo não, só se fosse<br />

médico. E no hospital continuou do mesmo jeito: raramente<br />

quando precisava <strong>de</strong> um auxiliar <strong>de</strong> enfermagem ele entrava na<br />

sala <strong>de</strong> parto. Ele não entrava não, ele não feria o pudor <strong>da</strong><br />

parturiente não, nunca feriu. Às vezes algum marido, mas isso<br />

eu nem me lembro. Só senhora. Sempre tinha uma senhora, eu<br />

sempre pedia: eu quero que a sra. fique aqui, lave a sua mão,<br />

se tinha um pano punha o pano na cabeça não é, olhava se a<br />

pessoa estava limpinha, então ela aju<strong>da</strong>va. Mas não tinha aju<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> homem não!<br />

Como eu já disse, a maioria dos partos a domicílio não se<br />

recebia. Aqui algumas pessoas, o “Ramba”, do “Camilo Dhal” foi<br />

o que pagou o parto mais caro! Naquele tempo um conto <strong>de</strong> réis<br />

era uma fortuna, era um conto <strong>de</strong> réis! A Dona. Cessi pagou<br />

seiscentos mil réis, imagina só. Enxoval chic, todo <strong>de</strong> linho,<br />

ponto Paris! Pagaram. Foi o que pagou mais caro, seiscentos<br />

mil réis. Pagaram para mim, parto domiciliar. Se fosse no SESP<br />

ninguém pagava na<strong>da</strong> não. Nós recebíamos nosso salário, os<br />

médicos recebiam o salário <strong>de</strong>les, não recebiam pelos partos,<br />

recebiam o salário <strong>de</strong>les.<br />

Quando começou era muito diferente: ca<strong>da</strong> um tinha o<br />

salário, hierárquico. A enfermeira tinha o salário <strong>de</strong>la,<br />

aten<strong>de</strong>nte tinha um salário, o médico tinha o seu salário, não<br />

é. Eu entrei no SESP em cinqüenta e um eu ganhei 300mil réis.<br />

Depois foi subindo, mas nós ganhamos isso muito tempo. Nunca<br />

foi tanto dinheiro assim mas também era o salário que se<br />

pagava na época. Mas o mais importante é que o pessoal<br />

consi<strong>de</strong>ra muito a gente, muito respeito! A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> em peso,<br />

aquele respeito, aquele carinho. Eu não tenho o que queixar,<br />

tenho é que <strong>da</strong>r graças a Deus e agra<strong>de</strong>cer a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que acolheu<br />

uma forasteira que chega aqui sem saber <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vinha. Vem <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong>, fazer o quê? Tem curso ou não tem, presta ou não presta?<br />

Me acolheram assim <strong>de</strong> braços abertos, ricos e pobres. As<br />

crianças faziam uma festa: eu montava na bicicleta e eles<br />

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