13.06.2013 Views

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

memórias de parteiras - Repositório Institucional da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

queria que tu também viesse trazer um neném para mim um dia<br />

<strong>de</strong>sses[...] Eu perguntei há quanto tempo ela estava grávi<strong>da</strong>,<br />

ao que ela respon<strong>de</strong>u: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que eu casei. Como, perguntei: tu<br />

já está ha mais <strong>de</strong> dois anos casa<strong>da</strong>, eu disse pra ela. Então<br />

eu tenho que te examinar para ver quanto tempo tu estás<br />

gravi<strong>da</strong>, como é que eu vou saber isso. Aí eu fui examinar ela<br />

e <strong>de</strong>scobri que nem relação sexual eles tiveram! Aí eu disse:<br />

olha menina isso é diferente, o neném tem que sair <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>da</strong> sua barriga, tem que se criar, tem que ficar nove meses ali<br />

<strong>de</strong>ntro. Aí eu disse, você e seu marido tem que ter relação<br />

sexual, sua mãe nunca te explicou na<strong>da</strong>, você nunca viu falar<br />

nisso? Então com muita paciência tive que explicar tudinho<br />

para a jovem. Olha, onze meses <strong>de</strong>pois foi tudo <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu<br />

fui lá fazer o parto <strong>de</strong>la, <strong>da</strong>í nasceu o neném. Imagina que ela<br />

acreditava, pois a mãe dizia que encaixava na toca <strong>de</strong> pedra o<br />

neném e a parteira trazia, e o marido <strong>de</strong>la também, não sei o<br />

que pensava.. Falavam essas bobagens para as crianças. Eu não<br />

sabia sobre essas coisas mas <strong>de</strong>pois quando eu estava<br />

maiorzinha, quando a gente tinha uns <strong>de</strong>z, onze anos, aí já<br />

ficava sabendo, claro. Sabendo mas ain<strong>da</strong> era tudo meio<br />

esquisito, porque mãe nunca falava, a gente é que conversava<br />

entre si mesmo. A gente via quando a mulher estava gravi<strong>da</strong> e<br />

quando ganhava o neném e tudo. E as <strong>parteiras</strong> a gente aí a<br />

gente conversa era um pouco diferente. Não sabia nem o que<br />

eram as regras quando vinham pela primeira vez. Tinha<br />

crianças, tinha meninas, que meu Deus do céu, quase ficavam<br />

loucas quando chegavam as regras. As mães não falavam na<strong>da</strong>.<br />

Começava a sangrar e sangrar e não sabiam o que era isso,<br />

achava que era uma doença perigosa ou alguma coisa assim.<br />

To<strong>da</strong>s as pessoas <strong>de</strong> uma certa forma, tinham muita<br />

vergonha[...] Vergonha, vergonha, eu tinha vergonha do meu<br />

pai, para pedir a ele para eu po<strong>de</strong>r estu<strong>da</strong>r para parteira eu<br />

tive vergonha, mas como eu tinha muita vonta<strong>de</strong>, eu acabei<br />

falando. Mas ele achava que era uma coisa muito ruim, muito<br />

difícil, mas fui e aprendi. Ah, muito difícil, Deus do céu,<br />

como era difícil! Hoje os tempos são outros hoje é <strong>de</strong>mais o<br />

que era <strong>de</strong> menos. É os colégios, a televisão[...] Na televisão<br />

explica <strong>de</strong>mais, essas novelas, é só relação sexual, só relação<br />

sexual. Não tem mais uma novela bonita, eu até nem gosto <strong>de</strong><br />

assistir, eu não assisto. Eu assisto bastante a Re<strong>de</strong> Vi<strong>da</strong>, que<br />

ali tem coisas boas. Eu assisto <strong>de</strong> manhã, assisto <strong>de</strong> noite, e<br />

fico fazendo croché.<br />

Era difícil até para nós começarmos a fazer partos no<br />

início porque a gente era muito jovem. Elas tinham vergonha,<br />

até uma senhora um dia me disse: mas eu tenho vergonha, a<br />

senhora uma mocinha e eu uma velha a arreganhar para uma<br />

mocinha nova. Eu disse: a senhora nem pense em se escon<strong>de</strong>r,<br />

porque eu sou novinha, mas sou parteira, eu sou forma<strong>da</strong>, e eu<br />

sei trabalhar, porque aqui não tem i<strong>da</strong><strong>de</strong> não tem na<strong>da</strong>. E<br />

naquela época iam tendo filho, não tinha preocupação como<br />

hoje. Eu fiz o parto <strong>de</strong> muitas senhoras <strong>de</strong> mais i<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma com<br />

104

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!