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relatório Direitos Humanos no Brasil 2010 - Fundação Heinrich Böll

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<strong>Direitos</strong> Hu m a n o s n o Br a s i l <strong>2010</strong>capaz de gerar o silêncio da resistência laboral e os salários arrochados que possibilitaramo milagre econômico do período de 1968-1973.O fim do milagre econômico não trouxe desde logo a insubordinação trabalhista, emparte porque as levas de trabalhadores rurais incluídos na eco<strong>no</strong>mia monetária viam-sesatisfeitas com o salariato, mas, também, porque os elevados níveis de repressão desaconselhavamos temas reivindicatórios.É a aceitação e impulsionamento do sistema dos esquadrões da morte pelo regimemilitar que abre a primeira fissura <strong>no</strong> seu bloco de apoio, afastando de sua base parcelasimportantes da Igreja Católica que se alinhara aos militares, ao capital, à grande imprensae ao latifúndio integrados com os interesses <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s para o deflagrar do movimentogolpista de abril de 1964.As torturas e assassinatos de toda classe de pessoas, mas, também, de religiosos ereligiosas, elevaram o clamor eclesial e deflagraram a batalha em tor<strong>no</strong> dos valores, colocandoos direitos huma<strong>no</strong>s na pauta como matéria de política. Inaugurou-se, <strong>no</strong>s espaçosmidiáticos, mas, também, nas naves e <strong>no</strong>s púlpitos, a demanda de atenção e respeito aosdireitos huma<strong>no</strong>s, e, em tor<strong>no</strong> dela, construiu-se uma primeira frente que uniu os descontentescom a ditadura.Se a Conferência Episcopal de Medellín trouxe o Concílio Vatica<strong>no</strong> II à AméricaLatina 2 , a Conferência de Puebla, ao afirmar a “opção preferencial pelos pobres implicou,também, o entendimento expresso pelo papa de que:3. Não é, pois, por oportunismo nem por uma preocupação de <strong>no</strong>vidade que a Igreja, “peritaem humanidade”, é defensora dos direitos huma<strong>no</strong>s. É sim por um autêntico compromissoevangélico, o qual, como sucedeu com Cristo, é empenho em favor dos mais necessitados. 3Por isso, quando, a partir de 1977, os trabalhadores do ABC paulista passaram areivindicar a reposição do fator inflacionário subtraído nas contas do então ministro DelfimNetto, já tinham uma disposição de apoio e uma perspectiva de que suas demandasintegravam o cardápio dos direitos huma<strong>no</strong>s. Mas, quando dois e três a<strong>no</strong>s depois, nasgreves de 1979 e 1980, os sindicatos foram alvo de intervenção, era a orientação papal quedeterminava a solidariedade da Igreja Católica a suas manifestações.Derrotada militarmente, a oposição à ditadura foi se fazendo vitoriosa <strong>no</strong> terre<strong>no</strong> dosvalores humanísticos, ampliando-se mais e mais o espectro da sociedade que encontrava<strong>no</strong>s direitos huma<strong>no</strong>s uma forma de expressar diferentes demandas políticas, civis, econômicase sociais.2“Medellín era como o Vatica<strong>no</strong> II traduzido para a América Latina”. Paulo Evaristo Arns, Da esperança à utopia:testemunho de uma vida (Rio de Janeiro, Sextante, 2001), p. 237.3Discurso do papa João Paulo II na solene sessão de abertura da III Conferência Geral do Episcopado Lati<strong>no</strong>-America<strong>no</strong>- Puebla de Los Ángeles, 28 de Janeiro de 1979. Disponível em http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/speeches/1979/january/documents/hf_jp-ii_spe_19790128_messico-puebla-episc-latam_po.html. Acesso em 20/10/10.104<strong>Direitos</strong> huma<strong>no</strong>s.indd 10411/18/10 12:15:38 PM

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