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relatório Direitos Humanos no Brasil 2010 - Fundação Heinrich Böll

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Na s o m b r a d a i m a g i n a ç ã o – O c a m p o n ê s e a s u p e r a ç ã o d e u m “d e s t i n o m e d í o c r e”Esse desafio torna-se mais complexo ainda pelo viés conceitual que se articula comouma pinça político-ideológica contra o camponês e que une supostos contrários entre si.Por um lado, num dos braços da pinça, está a práxis política da maior parte das organizaçõese movimentos sociais e sindicais populares <strong>no</strong> campo, que aceita o ponto de vistapolítico de parcelas do centro-esquerda de que a empresa capitalista é fundamental tantopara o desenvolvimento das forças produtivas como para a formação de um proletariadorural que, num futuro desejável, se apropriaria dessas empresas capitalistas <strong>no</strong> campo e assocializaria, numa mudança estrutural considerada necessária para se construir as basesde uma sociedade mais igualitária e justa <strong>no</strong> campo.De outro lado, encontra-se a reprodução da expansão capitalista <strong>no</strong> campo, que tem,na apropriação privada de toda a natureza, a base para que a lógica do negócio, da i<strong>no</strong>vaçãoapenas para o lucro, da concorrência e da concentração da renda e da riqueza, possamavançar sem limites. No meio, premido pelos braços dessa pinça político-ideológica, estáo camponês, exercitando a sua parte na divisão social do trabalho que lhe vem sendoimposta.A sugestão da necessidade de uma outra utopia para os camponeses, assim como deum outro modelo produtivo e tec<strong>no</strong>lógico para o campo, tem como premissas, do pontode vista objetivo, científico e tec<strong>no</strong>lógico, que os camponeses, na atualidade, já possuemtec<strong>no</strong>logia (agroecologia e afins) e capacidade de organização econômica e social quelhes permita se reproduzir socialmente com auto<strong>no</strong>mia relativa perante o capital, mesmonuma formação econômica e social hegemonizada por este; do ponto de vista político, queo rompimento das teias da subalternidade camponesa perante o capital não passaria, comosupõe e desejam alguns, pela conciliação camponês-capital, mas pela negação do modo deprodução capitalista <strong>no</strong> campo (e na sociedade como um todo).A superação da subordinação camponesa ao capital torna inconsistente qualquer tipode conciliação camponês-capital. Esta não efetua qualquer tipo de ruptura econômica,política e social dos camponeses com o capital, muito ao contrário. Ela reforça a subalternidadecamponesa e evidencia que, tanto da parte dos capitalistas como de parcelasdo centro-esquerda política, os camponeses devem ou se desagregar e desaparecer, ou sereproduzir na mesmice de “um desti<strong>no</strong> medíocre numa sociedade em movimento”.É possível e necessário que um <strong>no</strong>vo paradigma para o campo se faça presente naconcepção de mundo camponesa. Um paradigma que contemple o camponês como sujeitosocial, organizado nas mais diversas formas de cooperação e com crescente e apropriadodesenvolvimento dos seus meios de trabalho para potencializar a terra e o trabalho. Umaoutra utopia, construída por eles próprios <strong>no</strong>s seus que-saberes e que-fazeres socializados,na qual se afirme a auto<strong>no</strong>mia e a acumulação camponesas. E que contribua efetivamentepara que os camponeses deixem de ser “os quase sempre ig<strong>no</strong>rados” 12 .12Expressão de Lúcio Flávio Pinto na “Introdução”, em Jean Hébette, Cruzando a fronteira: 30 a<strong>no</strong>s de estudo do campesinatona Amazônia (Belém, EDUFPA, 2004), vol. III; p. 19.55<strong>Direitos</strong> huma<strong>no</strong>s.indd 5511/18/10 12:15:33 PM

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