relatório Direitos Humanos no Brasil 2010 - Fundação Heinrich Böll
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Na s o m b r a d a i m a g i n a ç ã o – O c a m p o n ê s e a s u p e r a ç ã o d e u m “d e s t i n o m e d í o c r e”de alimentos básicos e baratos, mas, também, produtores de commodities para as grandesempresas do agronegócio.Esse reenquadramento dos camponeses leva a crer que está ausente, em suas concepçõesde mundo, uma outra utopia que lhes emulem política e ideologicamente paraa construção da sua auto<strong>no</strong>mia relativa perante o capital, necessária e indispensável paraque desencadeiem, massivamente, uma reprodução social crítica e superadora da subalternidadeem relação ao capital agrário.Não é suficiente que as famílias camponesas individualizadas assumam uma <strong>no</strong>vapostura perante as classes dominantes. Será indispensável que os movimentos e organizaçõessociais e sindicais populares do campo repensem suas estratégias de ação, de maneiraa se tornarem os “intelectuais orgânicos” dos camponeses, não somente para as lutas deresistência social e reivindicatórias, mas como articuladores dos camponeses como classesocial na superação da sua contradição fundamental com o capital. É uma tarefa politicamentecomplexa, tendo em vista que a maior parte dos movimentos e organizações sociaise sindicais populares <strong>no</strong> campo, com exceções ocasionais, se constituiu em consonânciacom o pacto de dominação que impera <strong>no</strong> país: a aliança entre a propriedade fundiária eo capital.Os camponeses têm sido lembrados, com uma frequência nada desejável, como ospobres do campo ou trabalhadores laboriosos. Entretanto, é oportu<strong>no</strong> considerar que oscamponeses <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> têm sido, efetivamente, os responsáveis pela maior parte da ofertade alimentos básicos para a população, conforme foi registrado pelo Censo Agropecuáriode 2006. Nele, constatou-se que os 4,5 milhões de estabelecimentos camponeses 8 (88% dototal de estabelecimentos rurais do país) produziram, em apenas 32% da área total ocupada,87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58%do leite, 59% dos suí<strong>no</strong>s, 50% das aves e 30% dos bovi<strong>no</strong>s 9 , entre outros produtos. E mais:retendo <strong>no</strong>s estabelecimentos camponeses 79% do total do pessoal ocupado <strong>no</strong> campo.Essa relativamente elevada retenção de pessoal ocupado <strong>no</strong> campo se dá devido aofato de a família camponesa ser, ao mesmo tempo, trabalhadora direta e usufrutuária dosesforços que despende, e de se apropriar tanto na produção como do beneficiamento deseus produtos. Isso compreende, na maior parte das vezes, a produção tanto para o autoconsumocomo para o mercado, e a venda ocasional de parte da força de trabalho familiar,opções que se dão a partir das decisões das famílias com relação às suas estratégias dereprodução social.Devo salientar, <strong>no</strong> entanto, que, se por um lado, as informações anteriores evidenciama importância relativa dos camponeses do ponto de vista da construção da soberaniaalimentar do país e da garantia de trabalho para mais de 12 milhões de pessoas <strong>no</strong>8Conforme a Lei 11.326, de 24 de julho de 2006, aqui se considerando que as famílias camponesas não empregamtrabalhadores assalariados permanentes, e os temporários, apenas ocasionalmente.9MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário, Agricultura familiar <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e Censo Agropecuário de 2006 (2009).53<strong>Direitos</strong> huma<strong>no</strong>s.indd 5311/18/10 12:15:33 PM