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Dissertação completa - Programa de Pós-Graduação em Letras - UEM

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98A carta é datada do dia 29 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1884 e o en<strong>de</strong>reço é a Rua dosFanqueiros, <strong>em</strong> Lisboa. O poeta expõe a t<strong>em</strong>ática autobiográfica, mas omite a suasegunda intenção, talvez a mais importante – o elogio da vida campestre, o “cântico daterra”. No texto, a cida<strong>de</strong> surge como o flagelo, a doença, opondo-se à vida saudável docampo e à salvação da família, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o título Nós. Essa repulsa pela cida<strong>de</strong>, expressa <strong>em</strong>“O sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal”, b<strong>em</strong> como o entusiasmo que lhe merece a vida docampo resulta da doença revelada aos amigos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1877 e da esperança <strong>de</strong> encontraralívio na vida natural. O <strong>de</strong>sânimo e a amargura expressos na parte III resultam dadoença que o levou à morte dois anos <strong>de</strong>pois e da incompreensão do meio intelectualportuguês <strong>de</strong> sua poesia. Porém, na leitura do texto perceb<strong>em</strong>os muito mais do que omencionado na carta ao editor, pela objetivida<strong>de</strong> e subjetivida<strong>de</strong> presentes no texto.Consta uma <strong>de</strong>dicatória grafada pelas iniciais A A. <strong>de</strong> S. V. que, segundo Luís A.Oliveira (apud Higa, 2010, p. 259), o po<strong>em</strong>a seria <strong>de</strong>stinado “a uma jov<strong>em</strong> da famíliaSousa e Vasconcelos, por qu<strong>em</strong> Cesário teria se apaixonado”.É o mais longo po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Cesário, com cento e vinte e oito quadras que sedistribu<strong>em</strong> <strong>em</strong> três partes distintas: I, com doze estrofes <strong>em</strong> verso alexandrino; II, comcento e onze estrofes <strong>em</strong> verso <strong>de</strong>cassílabo e III, com cinco estrofes <strong>em</strong> versoalexandrino. Na parte I, a rima é cruzada <strong>em</strong> algumas estrofes (ABAB) e interpolada e<strong>em</strong>parelhada <strong>em</strong> outras (ABBA), na proporção <strong>de</strong> duas para uma. Na parte II, a rima éinterpolada e <strong>em</strong>parelhada (ABBA) e na última parte (III), a rima é cruzada (ABAB). Aparte I po<strong>de</strong> ser entendida como uma introdução, <strong>em</strong> que a cida<strong>de</strong> aparece comosinônimo <strong>de</strong> limitação, repressão, doença e morte. E, contrariamente, o campo aparececomo um espaço amplo <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, saú<strong>de</strong> e vida. E, por essa razão, teria o pai “ochefe antigo e bom da nossa casa” optado por fixar a família no campo durante gran<strong>de</strong>parte do ano, “Des<strong>de</strong> o calor <strong>de</strong> Maio aos frios <strong>de</strong> Nov<strong>em</strong>bro” (Parte I). Na parte II,observa-se a exaltação da fecundida<strong>de</strong> do campo e a caracterização do modo <strong>de</strong> vidarural, com as suas vantagens e dificulda<strong>de</strong>s presentes, interrompendo-se, porém, com amorte da irmã do poeta, motivo que chega a minar a confiança resultante da riqueza e dasalubrida<strong>de</strong> da vida no campo relatada ao longo dos versos:Que <strong>de</strong> fruta! E que fresca e t<strong>em</strong>porãNas duas boas quintas b<strong>em</strong> muradas,Em que o Sol, nos talhões e nas latadas,Bate <strong>de</strong> chapa, logo <strong>de</strong> manhã!

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