50Silva Pinto, que se tornara colecionador <strong>de</strong> arte após receber herança pela morte <strong>de</strong> seupai. Embora morasse no Porto, ele visitava os companheiros intelectuais <strong>de</strong> Lisboa.Outra probabilida<strong>de</strong> do contato <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> com o Grupo do Leão foiatravés <strong>de</strong> seu antigo vizinho da Rua do Salitre, Alberto <strong>de</strong> Oliveira, que projetou ogrupo como uma espécie <strong>de</strong> relações públicas, organizando exposições, editandocatálogos, entre outros trabalhos <strong>de</strong> divulgação. Lôbo (1999) explica que Cesário Ver<strong>de</strong>obteve alguma experiência <strong>em</strong> contato com o grupo, o que cristalizou suas tendênciasnaturais <strong>em</strong> sua produção poética e firmou-se <strong>em</strong> seu próprio caminho s<strong>em</strong> ligar-se aescola ou modismos da época. A primeira mostra do grupo na Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Geografiaocorreu <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1881. Cesário Ver<strong>de</strong> havia escrito e já publicado a maior parte<strong>de</strong> sua obra e segundo Lôbo, quatro po<strong>em</strong>as foram posteriores àquela mostra: De Tar<strong>de</strong>,De Verão, Nós e as inacabadas Provincianas.O fato <strong>de</strong> os pintores portugueses produzir<strong>em</strong> uma pintura nacional voltada parao campo não causa estranhamento para o autor, pois, com exceção <strong>de</strong> Lisboa e Porto,não havia verda<strong>de</strong>iras cida<strong>de</strong>s, maioria al<strong>de</strong>ias. Joel Serrão (1961, p. 34 e 35) <strong>de</strong>screvePortugal na meta<strong>de</strong> do século XIX com apenas trinta e uma cida<strong>de</strong>s que cresciam <strong>em</strong>diferentes ritmos. A partir da Geografia <strong>de</strong> Portugal, <strong>de</strong> Amorim Girão, Serrão afirmaque <strong>em</strong> 1878, Lisboa e Porto contavam com 187.404 e 105.838 habitantesrespectivamente. Daí o fato <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>radas as únicas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s. Em Bragahavia 23.000, Setúbal 17.581, Covilhã 17.562, Coimbra 16.985 e Évora 15.134habitantes no ano <strong>de</strong> 1890.A população vivia <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte na zona rural, conforme registra Serrão(1961, p. 36), justificando a maior familiarida<strong>de</strong> das pessoas com o campo; mesmo asque moravam <strong>em</strong> cida<strong>de</strong>s menores (exceto Porto e Lisboa) apresentavam um ritmo <strong>de</strong>vida mais tranquilo. Ao referir-se aos dois principais t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong>, campo ecida<strong>de</strong>, Lôbo relaciona a poesia campestre à pintura romântica, realista e naturalistaportuguesa. No entanto, o autor distingue o poeta dos pintores e até mesmo dosescritores portugueses, seus cont<strong>em</strong>porâneos, afirmando que Cesário Ver<strong>de</strong> t<strong>em</strong> umamaneira própria <strong>de</strong> ver e recriar a natureza.Naquele período, o verda<strong>de</strong>iro pintor da cida<strong>de</strong> foi Cesário Ver<strong>de</strong> na poesia eEça <strong>de</strong> Queirós no romance. Os pintores do Grupo do Leão, segundo os historiadores,
51não apresentaram influências do movimento impressionista <strong>em</strong> suas obras. Por ter sidoignorado e criticado <strong>em</strong> seu país <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>, a França, o Impressionismo não foi aceitofacilmente <strong>em</strong> Portugal, cujo contexto artístico era realista e <strong>de</strong>veria passar peloNaturalismo antes <strong>de</strong> assimilar o Impressionismo. Quanto ao t<strong>em</strong>a da cida<strong>de</strong>, não hápintores daquele período <strong>em</strong> Portugal para se comparar com a poesia urbana <strong>de</strong> Cesário,uma vez que não trataram do t<strong>em</strong>a urbano na pintura, ficando a cida<strong>de</strong> presente apenasna poesia cesárica. A cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita <strong>em</strong> seus versos po<strong>de</strong> ser lida e explicada peloImpressionismo, <strong>em</strong>bora o movimento não tenha ocorrido no período <strong>de</strong> vida eprodução do poeta, mesmo tendo conhecido Paris <strong>em</strong> 1883, fato não <strong>de</strong>monstrado <strong>em</strong>sua poesia.Cesário Ver<strong>de</strong> nasceu <strong>em</strong> 1855 e sua produção poética ocorreu entre 1873 e1886. Em 1873, nos meses <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro e <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro, o poeta publicou <strong>em</strong> Lisboa e noPorto as suas primeiras composições e os impressionistas organizam sua primeiraexposição <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> abril a 15 <strong>de</strong> maio, no estúdio do fotógrafo Nadar, <strong>em</strong> Paris. Deacordo com Lôbo (1999), o único contato que Cesário Ver<strong>de</strong> teve com osimpressionistas foi através <strong>de</strong> periódicos franceses que chegavam a Lisboa e <strong>de</strong>conversas com amigos vindos da França.Conclui-se que Cesário Ver<strong>de</strong> era um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po. Des<strong>de</strong> muito jov<strong>em</strong>foi ativo no mundo dos negócios e das letras, com uma sensibilida<strong>de</strong> humana e artísticarelacionada ao seu ambiente e ao mundo. Portanto, o ambiente externo colabora parasua arte inovadora. Os fatos estão acontecendo no mundo e à sua volta e pela suasensibilida<strong>de</strong> artística ele as retém <strong>em</strong> sua arte. De acordo com José Régio,[...] os dons e as tendências mais dispersos coexist<strong>em</strong> no excepcionalt<strong>em</strong>peramento artístico <strong>de</strong> Cesário: o gosto do pormenor concreto e opo<strong>de</strong>r visual <strong>de</strong> pintor realista, com uma fantasia <strong>de</strong>formadora e, porvezes alucinatória; uma sensibilida<strong>de</strong> não menos intensa por quases<strong>em</strong>pre retensa, com um pendor para o frio cálculo do estetarequintado; o amor do natural e do saudável, com uma íntimainclinação para o extravagante, o raro, o grotesco artístico. Estas eoutras características fizeram <strong>de</strong> Cesário um mestre <strong>de</strong> nossa poesiamo<strong>de</strong>rna, e um dos mais originais poetas da língua portuguesa” (1986,p.86).Consi<strong>de</strong>rando Cesário Ver<strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu t<strong>em</strong>po é preciso se ater o queestava acontecendo <strong>em</strong> Portugal no século XIX, a vida e a obra do poeta e o
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