94data a expansão foi rápida, mas, <strong>em</strong> relação à França, Portugal estava ainda muitoatrasado, principalmente, na questão da iluminação. Esse atraso da iluminação provocao retardamento industrial, nos transportes e <strong>em</strong> outras áreas, <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>pendência<strong>de</strong>sses setores da energia elétrica para seu avanço.Já na tela Boulevard Montmartre à Noite (1897), a iluminação é artificial ereflete a clarida<strong>de</strong> no céu noturno. No po<strong>em</strong>a O Sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal o incômodorevelado no segundo verso, O gás extravasado enjoa-me, perturba, é um mal-estarapontado por Serrão (1962, p. 52) como sendo um dos efeitos do gás nas pessoasnaquela época. Observa-se que tanto no po<strong>em</strong>a como na tela noturna a iluminação éartificial. No po<strong>em</strong>a, o gás relaciona-se ao efeito anestesiante sobre as pessoas para asituação que estão vivendo, inseridas no processo urbano s<strong>em</strong> se ater<strong>em</strong> aos probl<strong>em</strong>ascausados por um crescimento <strong>de</strong>sorganizado.Junto à cida<strong>de</strong> e à iluminação pública, há referência às linhas férreas notransporte urbano, que facilitavam o <strong>de</strong>slocamento das pessoas não só <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>como também para os países vizinhos: Bat<strong>em</strong> os carros <strong>de</strong> aluguer, ao fundo, / Levandoà via-férrea os que se vão, Felizes! Ocorr<strong>em</strong>-me <strong>em</strong> revista, exposições, países:Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! Observa-se nos versos uma or<strong>de</strong>mgeográfica perfeita e o <strong>de</strong>sejo do poeta <strong>de</strong> fugir, não necessariamente para qualqueroutra das cida<strong>de</strong>s enumeradas, mas para a vasta totalida<strong>de</strong> – o mundo – ironicamenterepresentada na passag<strong>em</strong> dos “carros <strong>de</strong> aluguer” que levam à via férrea os querealmente vão viajar. De acordo com Serrão (1962, p. 276), esses meios rodoviários eférreos que encurtavam distâncias e promoviam mudanças que somente se<strong>de</strong>senvolveram <strong>em</strong> Portugal a partir <strong>de</strong> 1856, com a inauguração da primeira linhaférrea; paralelamente também houve a abertura <strong>de</strong> estradas. Nas telas <strong>de</strong> Pissarro ascarruagens apresentam-se <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> proporção, movimentando-se <strong>em</strong> fila <strong>em</strong> toda aextensão do boulevard, até per<strong>de</strong>r<strong>em</strong>-se <strong>de</strong> vista. Como <strong>de</strong>stacou Berman, Paris é ocentro <strong>de</strong> novida<strong>de</strong>s que o artista procura. Camille Pissarro insere-se nesse contexto, foium dos artistas que pela arte também representou o Boulevard. De acordo com Berman,“Cinco gerações <strong>de</strong> pintores, escritores e fotógrafos mo<strong>de</strong>rnos (e, um pouco mais tar<strong>de</strong><strong>de</strong> cineastas), começando com os impressionistas <strong>em</strong> 1860, nutrir-se-iam da vida e daenergia que escoavam ao longo dos bulevares” (1986, p.147).
95As mudanças na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paris ocorr<strong>em</strong> no fim dos anos <strong>de</strong> 1850: “GeorgesEugène Haussmann, prefeito <strong>de</strong> Paris e circunvizinhanças, investido no cargo por ummandato imperial <strong>de</strong> Napoleão III, estava implantando uma vasta re<strong>de</strong> <strong>de</strong> bulevares nocoração da velha cida<strong>de</strong> medieval” (BERMAN, 1986, p.147). Essas mudanças daestrutura da cida<strong>de</strong> são apontadas pelo crítico como altamente revolucionárias na vidaurbana, alterando o fluxo <strong>de</strong> trânsito, comércio, com as <strong>de</strong>molições <strong>de</strong> antigasconstruções houve in<strong>de</strong>nizações e contratação <strong>de</strong> <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> trabalhadores<strong>em</strong> longo prazo para essas obras. Não se tratava apenas <strong>de</strong> tornar<strong>em</strong> os bulevares maislargos, “Os bulevares representam apenas uma parte do amplo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> planejamentourbano, que incluía mercados centrais, pontes, esgotos, fornecimento <strong>de</strong> água, a Ópera eoutros monumentos culturais, uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> parques” (1986, p. 146). Nessecenário <strong>de</strong> mudanças é o que o eu lírico quer estar, pois <strong>em</strong> seu país a situação flagradapelo seu <strong>de</strong>ambular pela cida<strong>de</strong> não lhe apresenta perspectiva <strong>de</strong> mudanças o que severifica no po<strong>em</strong>a O Sentimento dum Oci<strong>de</strong>ntal.O po<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Cesário Ver<strong>de</strong> apresenta recortes que o eu lírico vai captando, ao<strong>de</strong>ambular pela cida<strong>de</strong> na companhia do poeta. Figueiredo (1986, p.34) justifica aprodução do poeta ao afirmar que “Cesário Ver<strong>de</strong> só sabia ser fotógrafo <strong>de</strong>instantâneos”. Com o seu olhar <strong>de</strong> artista, capta a cena com perfeição e pelasubjetivida<strong>de</strong> revelada conduz o leitor às ruas, aos becos e ao cais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa.De maneira única, expressando seu prosaísmo poético, é como se registrasse numacâmera fotográfica pessoas, carros, edifícios, chaminés, varinas “E num cardume negro,hercúleas, galhofeiras, / Correndo com firmeza, assomam as varinas”, inspirado pelofim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, mas sofrendo fisicamente: “O céu parece baixo e <strong>de</strong> neblina, / O gásextravasado enjoa-me, perturba; (...) E o fim da tar<strong>de</strong> inspira-me; e incomoda!”. Naparte II do mesmo po<strong>em</strong>a, Noite Fechada, esse mal estar cresce: “E eu <strong>de</strong>sconfio, até, <strong>de</strong>um aneurisma/ Tão mórbido me sinto, ao acen<strong>de</strong>r as luzes”. O mal estar cresce <strong>em</strong>alguns sentidos, pois o eu lírico se encontra preso a algumas circunstâncias, a cida<strong>de</strong> oaprisiona, não permite sua expansão artística, como sua arte não é reconhecida “E o fimda tar<strong>de</strong> inspira-me; e incomoda!”, e ao mesmo t<strong>em</strong>po sente prenúncios da doença quevitimou alguns m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> sua família. Assim, não visualiza uma boa perspectiva paraa situação, mesmo com o “acen<strong>de</strong>r das luzes”.
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